485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 3 de junho de 2018

Do poeta-jornalista-escritor José do Carmo Francisco




A FALA DAS GAVETAS . UM POEMA DE JOSÉ CARMO FRANCISCO

 O corvo de Papillons Walk
(para Thomas Francisco Sutherland)

Cai aqui uma chuva macia e certa 
Na estrada do domingo de manhã. 
Teimoso e obstinado, o corvo corre 
Nos intervalos dos poucos automóveis.
Será o resto de um pão preso ao asfalto 

Deixado cair por uma criança indolente.
Mal surge o som e a imagem na curva 
De Morden Road, o corvo salta da rua.
Nada sabemos deste corvo capaz de viver
Dentro do tempo de duas guerras mundiais.
Em 1914 terá fugido ali para Greenwich 
Matando a fome na cantina da Academia.
Em 1939 escondeu-se no Rio Quaggy 
Onde não chegavam as bombas alemãs. 

O corvo de Papillons Walk salta 
Por cada automóvel que aqui passa.
Nada sabe da chuva desta manhã
Nem dos cânticos da igreja ao lado.
Sem idade nem memória, só futuro 
Há nele uma pujante razão de ser.
Não se distrai com os esquilos 
Que cruzam os jardins das moradias. 
Não se concentra nas crianças da rua 
Nas suas roupas, gritos e abóboras. 
Não se envolve no trânsito da rua 
E no som do guarda-lamas nas lombas.
Em Papillons Walk o corvo come 
Um pão que não seca nem termina.


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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