Lisboa contada pelos dedos
Baptista Bastos
Considerado um dos
maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando
Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em
vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a
escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.
Começou o seu percurso profissional em «O Século», matutino em representação do
qual viajou por numerosos países. N’«O Século Ilustrado», de que foi subchefe
de Redacção com, apenas, 19 anos, assinou uma coluna de crítica
cinematográfica, «Comentário de Cinema», que se tornou famosa pelo registo
extremamente polémico. Em Abril de 1960 é despedido de «O Século» por motivos
políticos (esteve envolvido na Revolta da Sé, 1959, na decorrência da
candidatura Delgado, de que foi activista), e, devido às circunstâncias,
trabalhou na RTP numa semi-clandestinidade e com um nome suposto: Manuel
Trindade. Com esse pseudónimo redigiu noticiários, e assinou textos de
documentários para Fernando Lopes [«Cidade das Sete Colinas», «Os Namorados de
Lisboa», «Este Século em que Vivemos»], e para Baptista Rosa, «O Forcado», com
imagem de Augusto Cabrita, e música de Miles Davies, «Scketchs of Spain.» Seis
meses decorridos foi despedido da RTP, porque o então secretário nacional da
Informação, César Moreira Baptista, mais tarde ministro do Interior no governo
de Marcelo Caetano, deu instruções nesse sentido, dizendo, num ofício: «Esse
senhor é um contumaz adversário do regime.»
Em épocas distintas Baptista-Bastos pertenceu, também, aos quadros redactoriais
de «República», «Europeu», «O Diário»; e aos das revistas «Cartaz»,
«Almanaque», «Seara Nova», «Gazeta Musical e de Todas as Artes», «Época» e
«Sábado». Foi, igualmente, redactor em Lisboa da Agence France Press.
Porém, é no vespertino «Diário Popular», onde trabalhou durante vinte e três
anos (1965-1988), e no qual desempenhou importantes funções, que marca, «com um
estilo inconfundível» [Adelino Gomes] o jornalismo da época. Naquele diário
publicou «algumas das mais originais e fascinantes reportagens, entrevistas e
crónicas da Imprensa portuguesa da segunda metade do século» [Afonso Praça].
«Um dos maiores jornalistas portugueses de sempre» [David Lopes Ramos, in
«Público]. Tanto no jornalismo como na literatura situa-se na primeira linha da
narrativa portuguesa contemporânea.
Colaborou, ou ainda colabora, como cronista [«um dos grandes escritores da
cidade de Lisboa», Eduardo Prado Coelho, in «O Cálculo das Sombras»], em
«Jornal de Notícias», “A Bola”, «Tempo Livre»; e, também, no «JL – Jornal de
Letras artes e Ideias», no «Expresso», no «Jornal do Fundão» e no «Correio do
Minho». Foi fundador do semanário «O Ponto», no qual, entre outros grandes
textos e reportagens, realizou uma série de oitenta entrevistas que assinalaram
uma renovação naquele género jornalístico e marcaram a época. Escreveu e leu
crónicas para Antena Um e Rádio Comercial. Foi o primeiro dos comentadores de
«Crónicas de Escárnio e Maldizer», famosa e popular rubrica da TSF – Rádio
Jornal. Colunista do «Público» e do «Diário Económico».
Foi docente na Universidade Independente, onde leccionou a disciplina de Língua
e Cultura Portuguesas.
Realizou uma série de entrevistas para as revistas «TV Mais» e TV Filmes».
Presença frequente em debates nas televisões apresentou, no Canal SIC, de
Novembro de 1996 e Janeiro de 1998, e a convite de Emídio Rangel, um programa,
«Conversas Secretas», com assinalável êxito. De Janeiro a Agosto de 2001 fez,
para a SIC-Notícias, um programa de entrevistas, «Cara-a-Cara.»
Percorreu, profissionalmente, todo o Portugal Continental e Insular, e viajou e
escreveu sobre Espanha, Canárias, França, Itália, Bélgica, Irlanda, Brasil,
Uruguai, Argentina, Suíça, Luxemburgo, Grécia, Áustria, Turquia, República
Democrática Alemã, República Federal da Alemanha, Checoslováquia, URSS,
Marrocos, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Nigéria, Angola, Moçambique, Cabo
Verde, etc.
Um dos seus livros de textos jornalísticos, «As Palavras dos Outros», é
considerado «um clássico» e «uma referência obrigatória na profissão» [Adelino
Gomes e Fernando Dacosta], sendo recomendado como «leitura indispensável» no I
Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.
Todos os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas,
reportagens, ensaio cinematográfico) estão antologiados em volumes de ensino de
Português, e seleccionados por temas em obras representativas das modernas
correntes literárias. Está traduzido em checo, búlgaro, russo, alemão,
castelhano e francês. Os romances «Cão Velho entre Flores» e «Viagem de um Pai
e de um Filho pelas ruas da Amargura» são geralmente considerados obras-primas.
O primeiro foi indicado como leitura obrigatória no Curso de Literatura
Portuguesa Contemporânea da Sorbonne, sendo professor o Dr. Duarte Faria, e
catedrático o Prof. Dr. Paul Teyssier. Este romance foi, também, lido na Rádio
Comercial, em 1979, numa produção de Fernando Correia.
Os livros de Baptista-Bastos têm servido de estudos e para teses de
licenciatura em universidades portuguesas e estrangeiras.
Em Abril de 1999, a Direcção do matutino «Público» convidou-o a realizar uma
série de dezasseis entrevistas, subordinadas ao tema: «Onde é que Você Estava
no 25 de Abril?», que desencadeou grandes polémicas e constituiu um assinalável
êxito jornalístico. Doze dessas entrevistas (com Álvaro Guerra, Carlos Brito,
D. Januário Torgal Ferreira, Emídio Rangel, Fernando de Velasco, Hermínio da
Palma Inácio, João Coito, Joshua Ruah, general Kaúlza de Arriaga, Manuel de
Mello, padre Mário de Oliveira e Pedro Feytor Pinto) foram inseridas num
CD-Rome (que teve uma tiragem de 55 mil exemplares), juntamente com a edição de
25 de Abril de 1999 daquele jornal.
Pela mesma ocasião, a Direcção do «Diário de Notícias» também convidou
Baptista-Bastos a escrever o enquadramento do capítulo «O Efémero», da edição
especial «O MILÉNIO», iniciativa daquele matutino.
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