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quinta-feira, 29 de novembro de 2018

Do jornalista e redator principal do jornal record, RUI DIAS


Bas Dost em território sagrado
Em tempos, Jorge Valdano expressou a convicção segundo a qual o que lhe faltou como futebolista se deveu à excessiva distância entre a cabeça e os pés; que o seu 1,87m era de mais para executar com perfeição todas as maravilhas concebidas pelo cérebro prodigioso. Um dia alguém lhe disse que não era bem assim, porque Van Basten, tendo só mais um centímetro do que ele, era um génio. A essa provocação respondeu, concluindo o diálogo: "A minha tese exclui os extraterrestres". Bas Dost não ambiciona à divindade, tem quase 2 metros (1,97m) e está a invadir território sagrado no Sporting: com números esmagadores, mostra-se cada vez mais completo, coordenado, rápido, ágil e participativo; é goleador por vocação e tem alimentado o processo de crescimento futebolístico, definidor de um talento muito consistente, reunindo um número cada vez maior de elementos técnicos fundamentais.

Esse foi o trabalho de Jorge Jesus: completá-lo como extraordinário marcador de golos (são vários os avançados que só depois de lhe chegarem às mãos atingiram números arrasadores) e apetrechá-lo de competências que o próprio jogador nem sonhava algum dia vir a ter. Para lá da influência estatística evidente, Bas Dost alargou a participação sem se desfocar; entra na cerimónia da aproximação à baliza mas não se distrai; contribui para a construção mas está sempre de olho no toque final; dispersa-se na ação mas mantém concentração para cumprir a tarefa no momento em que respira fundo, baixa as pulsações e põe assinatura na obra.

É muito raro vê-lo em situações desarmoniosas. Apesar da aparente falta de mobilidade, satisfaz o instinto assassino com golpes brilhantes, muitos deles executados com luvas brancas. Oscila entre o entendimento total do que acontece à sua volta e o ar distante mas mentiroso de quem tenta passar por visitante acidental; por vezes promove a imagem inofensiva de um homem compreensivo com as dificuldades alheias, que está ali para ajudar, mas já ninguém o leva a sério. Não se pode acreditar nele porque, até ao momento do tiro, mostra sempre o oposto das verdadeiras intenções. Sabendo-se que é hoje um jogador muito melhor, mais completo e abrangente, o foco da ação é o instinto magistral para atacar a presa e assassiná-la por norma a um toque.

Bas Dost não é efeito sem causa. Sendo eterno candidato a herói, nunca é levado em ombros por invenções individuais descontextualizadas do coletivo; sim, está lá sempre para cobrar os direitos de autor de golos fabricados pelo génio criativo de quem o rodeia mas também porque ele próprio se mostra através da inteligência das movimentações, da malícia dos envolvimentos e do instinto orientado pela cumplicidade com os companheiros. Trabalha que nem um desalmado para estar no sítio certo quando é chamado a intervir. Muitas das obras são o culminar de quem inventa atrás dele mas outras devem-se à sua intuição, que toda a equipa entende cada vez melhor.

A inteligência futebolística e a técnica individual sem pompa, mais os elementos táticos que Jorge Jesus introduziu no seu reportório, fazem com que não pertença ao lote dos pontas-de-lança exclusivamente dependentes dos disparos que fazem explodir estádios inteiros. Nunca se reduz a zero, porque aplica notáveis recursos: joga bem de costas para a baliza; sabe receber, segurar, entregar e virar-se de frente para o destino; é um cabeceador exímio e tem faro apurado nas situações de golo iminente. Falta-lhe habilidade para inventar truques, ensaiar fintas mirabolantes, dar toques de calcanhar ou ensaiar raides individuais em mar aberto; mas é um soldado de elite, intenso, articulado, com boa velocidade de deslocamento e frieza quando chega a hora de puxar a culatra atrás e fazer o que melhor sabe: PUM! Golo do Sporting. São 66 em 80 jogos. É quase obsceno.

Sérgio Oliveira marcou de penálti

Sérgio Oliveira bateu Vagner e saiu disparado para junto do banco, onde celebrou em conjunto a reposição da justiça que faltou em Paços de Ferreira. A frieza da análise estimula a convicção de que, tendo sido anulado, o lance não contou. Mas não precisava de contar para dar felicidade coletiva e, uma vez mais, evidenciar a união azul e branca. A bola não entrou mas foi golo do FC Porto? Claro que foi.

Jiménez perto de Jonas

Raúl Jiménez desbloqueou dois jogos consecutivos do Benfica, ambos saindo do banco – na Feira o efeito da sua entrada demorou apenas 29 segundos. Rui Vitória precisou de mudar o 4x4x2 com que foi bicampeão para o 4x3x3 que lhe deu equilíbrio na luta pelo seu tri, o penta dos encarnados. Na fase decisiva, só tem conseguido desatar o nó quando dá companhia a Jonas. O futebol não é uma ciência exata.

Esgaio sempre a crescer

Ricardo Esgaio está a fazer uma época tremenda. Numa equipa bem estruturada e em estado de graça, sob o comando de um treinador com bom gosto e ideias claras, sente-se cómodo, confiante e motivado. Já marcou quatro golos na Liga e tem oito assistências – só batido por Alex Telles. Os números, porém, são apenas uma parte da expressão futebolística do ex-leão. Está a evoluir e não se sabe onde vai parar.
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Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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