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quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

Onésimo Teotónio Almeida



. De(pu)pilação (crónica de Onésimo Teotónio Almeida)

Antiga, mas conto para introduzir o tema. Uma professora de Ciências pergunta à sexta classe qual a parte do corpo humano capaz de, quando estimulada, aumentar dez vezes o seu tamanho. Uma garota cora e ofende-se; ameaça queixar-se à mãe. A professora ignora-a e dá a voz a outra criança de braço no ar: «A pupila!» Voltando-se para a menina ultrajada, a mestra esclarece: «Ouviste? Essa é que é a resposta certa. Além disso, há três coisas que precisas de saber. Primeiro, a tua cabecinha está a precisar de uma boa limpeza; segundo, não estudaste a lição e, terceiro, um dia vais sofrer um grande, grande desapontamento.»

                                                    
Foi a minha leitura de mais um capítulo do livro, ainda a cheirar à gráfica, Thinking, Fast and Slow, de Daniel Kahneman, Prémio Nobel da Economia, que me lembrou essa estória e a tornou científica nos pomposos termos de “pupilometria cognitiva”, campo a que aliás o mesmo autor já dedicara um volume inteiro, Attention and Effort (1973), explicando a interrelação entre a actividade mental e a dilatação da pupila; esta supostamente revela o índice de energia dispendido pela mente. Ou seja, acabaram quantificando a velha expressão «Os olhos são as janelas da alma».
A graçola que abre hoje este meu cantinho costuma provocar da parte das mulheres comentários do género: «Vê-se que essa é uma anedota masculina porque isso de tamanho é uma obsessão de homem, não partilhada pelo elemento feminino.» Na verdade, até mesmo o humor para consumo macho confirma a diferença. Em abono da afirmação ressalte-se os graffiti das casas de banho dos homens, informativo estendal de dados empíricos. (Um dia encontrei na privada do Andreas, ali à Thayer Street, um que anunciava «I’m nine inches». Por baixo, alguém acrescentou: «Fine, but how big is your prick?» – fica em inglês porque a tradução, por mais que a tentasse, só podia roubar metade da chalaça). Não tenho estatísticas mas estas realidades de diferenças de género foram ainda há meses corroboradas por ambos os lados dos campos de guerra sexual num programa de Jon Stewart a propósito da voga de jovens exibirem os seus dotes genitais via telemóvel em SMS às miúdas - em inglês, sexting, de texting. (Aliás, não lhes é exclusivo. Lembram-se do congressista Anthony Weiner que por isso teve de dizer adeus ao seu lugar em Washington?) Uma mulher captou o duro da questão: «Percebam os homens que sim, queremos um pénis, mas um pénis que nos oiça e com o qual possamos conversar, e com bom aspecto, para nos dar o prazer de apresentá-lo à família.» O que inevitavelmente me fez lembrar o pai daquela jovem toda século XXI, que prezava acima de tudo a sua liberdade e por isso… «Casamento?!... Nem pensar!» O pai tentava dissuadi-la: «Como mulher, um dia vais sentir a falta de um homem.» A filha, língua desempoeirada e solta, que não. «Para aquilo que os homens ainda servem, há hoje aparelhos eléctricos que desempenham bem o serviço.» Um dia, porém, ao entrar em casa, deparou com o pai na sala. De robe, contemplativo e taciturno, copo de uísque e charuto. Em cima da mesa, diante de si, um vibrador eléctrico. Intrigada, a rapariga indagou e ouviu: «Estou só a descontrair um pouco e a bater um papo com o meu genro.»
Houvesse aqui espaço e contaria uma mais recente sobre o género do computador, por sinal bastante equitativa dividindo a piada a meias entre homens e mulheres. Os ouvintes de ambos os lados acenam anuindo, reconhecendo-se nos estereótipos, um deles o da pecha sexual masculina. Essa verdade consagrada pela experiência histórica foi afinal captada em grande por alguém que corrigiu um provérbio da velha sabedoria americana, transmitido pelas mães às filhas casadoiras: «A way to a man’s heart is through his stomach». A alternativa proposta é: «Quem julga que para chegar ao coração de um homem lhe deve tratar do estômago, está a apontar muito alto.»

Crónica de Onésimo Teotónio Almeida publicada na edição de janeiro da LER.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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