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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Da poetisa-escritora Maria Azevedo



Ó coisas da nossa infância!
Bem que o sinto, o toque do vento,
O vento vindo do cais,
Corpo Santo acima,
Trepando… assobiando,
Na curva da casa do António,
Enrolando, 
À volta da Igreja da Conceição,
Descendo a Rua do Morrão…
Bem que os ouço,
Os sinos tocando,
E o nosso riso,
Na travessa,
"Atrás-das-hortas”,
Correndo e gritando, aos morcegos...
”Toma lá azeite! Toma lá azeite!...”
( Não desvendei o porquê)
Ainda a sinto e vejo, 
A avermelhada bola de fogo,
Por cima do teto da ilha…
O sol a ser engolido p’lo mar,
E lá ao longe o ilhéu, 
O canto do garajau,
Ainda ouço as despedidas,
E os “planos”, p’ra outro dia!
E o céu a escurecer, 
No alto da clarabóia,
Do meu quarto de menina,
Colcha branca e cor-de-rosa,
Fazendo crescer no meu peito,
Palavras para outra história,
Já tocaram as matinas,
E a bata branca enfiada,
Com não sei quantas listas,
Bordadas,… 
Na manga levava,
Rua do Galo descida,
Praça Velha atravessada…
Subindo a rua da Sé…
Num pulo, no Alto das Covas,
Imponente, a nossa Escola,
Dum lado meninos, do outro meninas,
(No meu tempo, “era a moda”)!
E o cheiro ainda o sinto,
De “ponta de lápis", 
Acabado de afiar,
Do tinteiro, que era branco,
E dos dedos a azular…
Das pratas de chocolate,
Metidas nas folhas dos livros,
Só para "desafiar"...
Do pátio, com um lago ao centro,
E dos corredores à volta, onde se cantava,
“No alto daquela serra... 
Está um lenço a acenar…
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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