O dia pela Beira-alta, amanheceu com -2 no painel da viatura...
Algo me dizia que este não mentia...
O céu está claro em azul-cinza, doce uniforme...
No ar corre uma brisa ligeira, que queima as maçãs do rosto, e o que mais estiver descoberto....
Os ponteiros do relógio, foram cumprindo a sua obrigação, e os menos 3, foram para menos "crescendo"..
Creio que São Pedro não vai recolher o astro rei antes das 4h da tarde...
Então aí, preparem-se as lareiras, os bules de chá , as pantufas, as sopas fervendo nos panelos....
Aconcheguem-se bem ao braseiro....
Olhem de baixo para cima e sorriam , porque lá no alto das chaminés está o "bendito" fumeiro, a pedir que se lhe chegue , e se faça assar lentamente por cima das brasas, uma chouricita, a derreter-se na fatia de pão milhão....
É a tal " da frente fria" dizem...
Frente fria, ou não, penso de mim p'ra comigo, que já lá vão 43 anos, sempre encontrei esta Beira do Alto Paiva, assim fria, geradora de convívios e serões,
De capuchas cobertas pelos ombros,
Dos barretes ou "pilas" de Alvite a tapar orelhas,
Dos meiotes de lã, com 4 agulhas a crescer pelo estio , nas soleiras das portas, esperando " destas frentes"...
À noite vira-se o testo do panelo, pranta-se-lhe, uma caneca de barro, com um binhinho e açúcar a emornecer....
E às badaladas do sino na torre sineira, recolhem-se ao quarto, e adormecem os ossos nos colchões aquecidos com quentes botijas e corações que se querem...
E sendo da ilha, que me faz falta...muita, gosto desta Beira com cheiro de feno,
Da cor dos montes,
Do cheiro das maias,
Dos fornos quentes, e bôlas de chichos...
E folares de azeite, e meninos correndo descalços p'los rios,
Saltando poldras, apanhando alfaiates e saltarecos verdes pelos lameiros...
E de um fado beirão, p'ra dançar no terreiro....
E com tudo isto, já desceu no termómetro mais um ou dois dígitos...
Boa "aragem fria", cuidem uns dos outros!

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