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sexta-feira, 22 de março de 2019

Do jornalista e redator principal do jornal Record Rui Dias


Vítima de preconceito sem sentido
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César Luis Menotti, um dos mais notáveis geradores de ideias à volta do futebol, utilizou o brilhantismo habitual para fortalecer um conceito sobre o reconhecimento exterior da atividade que abraçou: "Um treinador vê-se nos progressos dos seus jogadores." Para o argentino, campeão do Mundo em 1978, a conclusão é simples: "Se um futebolista tem sempre as mesmas virtudes e os mesmos defeitos, é porque não tem um bom mestre." Muito do que tem sucedido aos jogadores portugueses no estrangeiro remete para esta linha de pensamento. Ao fim de um ano ao serviço do Bayern Munique, Renato Sanches não só estagnou como regrediu; não acrescentou competências ao seu futebol e, pior do que isso, perdeu qualidades como enorme projeto, sinal de que o treinador recebeu diamante por lapidar e o destruiu aos poucos; teve nas mãos um jovem campeão europeu (19 anos em 2016) e só o estragou. Seguindo a linha de raciocínio de Menotti, a avaliação de Ancelotti , mesmo com currículo impressionante, não pode ficar pelas meias-tintas: é um zero à esquerda.

Concentremo-nos agora no caso incompreensível de João Mário no Inter, à volta de quem a loucura e a falta de respeito já ultrapassaram os limites. Isto sem excluir a própria comunicação social italiana – há poucas semanas, em jogo vencido por 2-1, o mais prestigiado jornal do país (‘La Gazzetta dello Sport’) dizia que, à exceção de ter oferecido os dois golos, tinha sido uma desgraça. Não faz sentido. Sobre João Mário foi recaindo a suspeita, sem confirmação científica, de que é lento, preguiçoso, displicente, descomprometido e pouco intenso. São críticas de catálogo no futebol do catenaccio, oriundas de quem não entende o jogo, não percebeu a sua evolução e continua a confundir o essencial com o acessório. João Mário é, simplesmente, um dos melhores médios mundiais da atualidade, um craque incompreendido por meio conservador, no qual o futebol ainda só é avaliado por elementos medíveis. 

Ao vê-lo no Portugal-Suíça, a revolta apoderou-se de quem se deixou levar pela aula prática de um talento sublime, que passeia pelo campo como se fosse, ele próprio, uma vasta e completa enciclopédia futebolística; um excecional pensador e executante que conhece as regras do terreno que pisa e toma sempre as melhores decisões em prol do coletivo. João Mário conhece o manual de bom comportamento e tem a arte de adaptá-lo a cada instante, face às diferentes circunstâncias que encontra no campo de batalha, com especial incidência para a situação dos companheiros e as características técnicas de cada um. Nunca se perde nos caminhos que percorre, porque é um condutor prodigioso, com perfeita noção do momento em que deve prosseguir quadros solitários de aproximação à baliza ou soltar a bola com a perícia e a inteligência de quem pretende dar as respostas óbvias a todas as solicitações: quando, como, para onde e para quem.

Para João Mário, a Seleção tornou-se refúgio de paz, reconhecimento e afeto. Estar entre amigos que o admiram e lhe querem bem faz mais por ele em cinco dias do que o delírio desrespeitoso de S. Siro num ano inteiro. Portugal foi campeão da Europa também pelo seu talento extraordinário mas, quando regressou de férias, após a glória de Paris, tinha à sua espera em Milão uma sentença vergonhosa para quem a proferiu: era um elemento transferível. Nos nerazzurri, a exigência é sempre muito elevada quando entra em campo para medir forças com os adversários; mas a tormenta maior é ver-se confrontado com as dúvidas incompreensíveis e as críticas preconceituosas e sem sentido que destroem a credibilidade daqueles que deviam ser os seus principais aliados. Chamem-se Piolli, Spalletti, Risotto, Spaghetti, Ancelotti, Montella, Tagliatella ou Lasanha, são todos feitos da mesma massa.

Miúdo mostrou que tem pinta

Svilar estreou-se pelo Benfica e, perante adversário do terceiro escalão, deixou boas indicações. É um guardião com escola, boa estampa atlética e todas as principais virtudes físicas para a tarefa. Resta acrescentar que, fenómenos à parte, aos 18 anos o guarda-redes aprende cometendo erros, razão pela qual o risco é sempre elevado. Nestes casos, a convicção do treinador pode fazer toda a diferença.

Gonçalo Guedes melhor que nunca

Gonçalo Guedes vive momento esplendoroso no Valencia. Está a jogar como nunca, revelando no vice-líder de La Liga peso relativo que jamais atingiu no Benfica. Avançado de toda a frente de ataque, tem acrescentando argumentos à construção de um enorme jogador – tem explosão e articulação motora; sabe soltar a bola e está tão confiante que até já faz golos com tiros magistrais a longa distância da baliza. 

O percurso de Paulinho

Paulinho contraria o lugar-comum de que ser bom numa equipa secundária não é suficiente para triunfar numa potência. O avançado notabilizou-se pelo Gil Vicente, foi transferido para o Sp. Braga e não pára de marcar golos, de tal forma que não será surpresa ver Fernando Santos dar-lhe oportunidade num dos jogos até ao Mundial. Aos 24 anos, estamos perante avançado com potencial para voos mais altos.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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