JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sábado, 30 de março de 2019

Do jornalista Rui Almeida



“FAROL DE NEVOEIRO” – 31 março

Independência + confiança = jornalismo
Entre Istambul e Joanesburgo, no nosso pequeno-grande mundo


Ao longo de 33 anos de carreira, procurei, neste cada vez mais global e vertiginoso mundo em que vivemos, cultivar um dos valores que julgo serem indissociáveis do jornalismo e dos seus atores: a independência.

Mesmo que os manuais – sejam os da velha mas fundamental “escola da tarimba”, sejam os do ensino sistematizado da profissão, a nível técnico ou superior – continuem a privilegiar a isenção e a objetividade como paradigmas do exercício deste “métier”,  prefiro (e tenho procurado sublinhá-lo sempre que chamado a partilhar experiências, um pouco por todo o mundo), que a independência e a honestidade sejam os elementos estruturantes de uma missão fascinante.

O jornalismo passa, hoje, por um dos maiores desafios da sua história. Porque é um desafio intrínseco, um desafio que tem que ver com os seus atores, com os seus profissionais e com a forma como encaram, gerem e projetam a imagem da sua profissão. Numa era de reconversão tecnológica mas que, simultaneamente, é também de expansão de plataformas e meios, de reações imediatas e de perigos associados, o jornalista é chamado a olhar para si, para os seus critérios, para o seu “modus operandi”,  numa perspetiva (e numa obrigação ética e deontológica) de permanente avaliação, autocrítica e regulação dos seus pares.

Não o fazer implicará, necessariamente (seja na voracidade do “imediato”, seja na memória dos tempos) alijar uma responsabilidade e uma obrigatoriedade que resultam, a montante, do próprio exercício da profissão. Daí que a independência e a honestidade emirjam como fatores dominantes: quanto mais independente for o jornalista em relação a todos os restantes poderes, conseguindo, assim, as fundamentais equidistância e visão de perspetiva, mais próximo estará de atingir os seus objetivos e, de um modo consolidado, de criar com a opinião pública os laços de confiança que resultam da génese do seu trabalho.

Porque é isso que se pede a um “procurador da opinião pública”: distanciamento relativo, valores sociais e humanos, sentido de equidade e transparência, defesa das liberdades e das suas diversas expressões públicas, denúncia sustentada e equilibrada dos abusos, das injustiças e das ilegalidades. Em certa medida, é tudo isso que o centenário “Diário dos Açores” procura, nas suas colunas. O privilégio que ao longo do último ano e meio me foi dado pela Direção de um título de prestígio e referência nos “media”açorianos é o mesmo que agora me acompanha para outros desafios, requerendo dedicação exclusiva e foco absoluto.

Por isso, o “Farol de Nevoeiro” desliga-se hoje da presença habitual junto dos leitores do “DA”. Curiosamente, escrevo este último texto sobrevoando o Botswana, no final de um voo de nove horas e meia entre Istambul e Joanesburgo. Atravessando continentes, como tenho feito ao longo dos 33 anos de carreira mas, sobretudo, procurando, com essa mundivisão, encurtar distâncias e aproximar pessoas. Exatamente o que vou continuar a fazer no meu próximo projeto profissional.

O “11” é apaixonante e desafiante. Integrar, desde o primeiro minuto de emissão, o novo canal de televisão (que é também plataforma de conteúdos) da Federação Portuguesa de Futebol permitir-me-á, a partir de maio, regressar a Portugal, depois de dez anos a olhar de fora o país, com todas as “nuances” que o emigrante transporta. Volto mais “musculado”, com experiências extraordinárias na SuperSport (a cadeia sul-africana de televisão que só é ultrapassada, em dimensão estrutural, pela ESPN), durante sete anos, e na Deutsche Welle (a estação internacional alemão de rádio, televisão e digital), nos últimos dois anos. Mas volto a Portugal com a ilusão do primeiro dia de carreira profissional (um 26 de maio de 1986 que revivo hoje com a mesma paixão e o mesmo empenho). E certo de que o “11” poderá contribuir para um futebol melhor. Reencontro o Nuno Santos, o Carlos Daniel, o Pedro Sousa, a Cecília Carmo, o Ricardo Espírito Santo. E um conjunto de novos valores que me fazem pensar que este pode, de facto, ser o mais desafiante projeto da minha carreira profissional. 

Fecho, por agora, um ano e meio de colaboração regular com o “Diário dos Açores”. O Osvaldo Cabral sabe bem o que dele penso como homem, como jornalista e como Diretor Adjunto deste jornal que é uma referência e que orgulha todos os que por estas páginas passam. E sabe, por isso, que a independência e a honestidade serão sempre os valores dominantes, e que a confiança criada com os seus leitores será reforçada a cada dia que passa. Porque é disso que se trata o jornalismo: confiança. E, no “Diário dos Açores”, ela é para o resto da vida. Como o próprio jornal, afinal. 
Até já.

Rui Almeida
Jornalista da Deutsche Welle

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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