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domingo, 26 de maio de 2019

Da escritora Graziela Veiga - A MELHOR HERANÇA - EDUCAÇÃO


A MELHOR HERANÇA - EDUCAÇÃO  

Hoje, mais uma vez, apetece-me falar da minha infância, juventude, da minha caminhada, na qualidade de estudante. 

Entrei para a Escola Primária, (como era designado) com 7 anos. O primeiro ano, foi infernal, pois não tive sorte com a Professora, de seu nome, Bernardete Amarante! 

Foi nesse ano inaugurada a Escola Mista, até então, Escola Feminina. Confesso que não estranhei, por estar habituada a conviver com os irmãos mais velhos, para mim, era normal estar lado a lado com rapazes. 

Embora, naquela altura, houvesse régua de pinho (castigo aplicado aos alunos que faziam erros ortográficos), e"ponteiro", designação dada a uma cana comprida e estreita, quase sempre oferecida por algum aluno, na maioria das vezes, o primeiro a levar porrada com a referida cana. Apesar de tudo, permaneci intacta. 

Não, nunca levei porrada! Respeitava os professores, os colegas, aprendia bem, era por assim dizer, uma excelente aluna, modéstia à parte. 

Por culpa da Professora, tomei um pó à Escola, de tal forma, que os meus irmãos é que me levavam e deixavam à porta da sala de aulas. Se a Professora não abrisse a porta, eu não fazia questão de entrar. Hoje penso o que os meus pais se inquietaram, sobretudo a minha mãe, que labutava comigo mais de perto. Felizmente, só durou um ano, pois tive a sorte de ter a Professora Maria do Natal (falecida), no segundo ano, que veio mudar totalmente a minha postura perante a Escola. De tanto detestar, passei a adorar a Escola. Ao ponto de ficar aborrecida pelos três meses de férias. 

E assim, fiz a quarta-classe, com uma perna às costas. Feita a quarta-classe, imperava-se a continuidade, mas dadas as circunstâncias monetárias, fiquei em casa, com muita pena minha, e nomeadamente da minha mãe, pois tinha sido chamada à Escola e por sugestão da Professora, eu deveria continuar a estudar, dado que reunia todas as condições cognitivas. Era um repto e eu queria tanto, que a minha mãe ainda pensou em vender terra, a fim de me dar estudo, bem como aos irmãos, aqueles que quisessem. No entanto, para meu pai, estava fora de questão. Vender terra, não. Tinha a terra para trabalhar e herança familiar, portanto, assunto encerrado. 

Mais tarde, através do Professor Manuel Ferraz, que implantou nas Escolas Primárias, a continuidade, através de um programa designado Telescola. E eu, aproveitando a oportunidade, matriculei-me e lá fui tirar o Ciclo Preparatório. Ainda não satisfeita, cada vez mais, o sonho de continuar, mas como? 

O tempo passou... e ao fim de anos, através da homilia, um padre falou sobre a importância do estudo. Acontece que, estava presente nessa missa, tal como amigas minhas. 

Naquelas tardes de Verão, em que se juntávamos ao Domingo, o tema da conversa foi esse. E ainda bem que aconteceu. 

Entretanto, surge a ideia de continuarmos os estudos. O mais insólito, foi que a amiga que iniciou a conversa sobre esse assunto, foi precisamente a que não prosseguiu. 

E assim, quatro amigas, na casa dos vinte e poucos anos, matricularam-se no ensino nocturno, algumas com o estatuto trabalhadora/estudante, na Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade. 

Ainda estava em vigor, o Curso Geral de Administração e Comércio. Foram seis anos que passaram rapidamente.

Devo dizer, que foram anos marcantes, de muito trabalho, mas de muita aprendizagem, pois sabia o que pretendia. E cada vez mais, aguçava o gosto pelo conhecimento, pela descoberta, enfim, por tudo o que eu no fundo sempre desejei. Comecei a ver a diferença de quem estuda, e a sentir-me cada vez mais feliz pela concretização do meu sonho. 

Tive a sorte de encontrar Professores excepcionais, duma forma geral, pessoas que tinham gosto em ensinar, que nos incentivavam a continuar. Não esquecendo os colegas, alguns deles, actualmente, amigos para a vida. 

Tirámos notas brilhantes, que faziam a diferença, pois os próprios professores ficavam surpreendidos pelo nosso desempenho. Recordo, particularmente, a minha amiga de infância, que também esteve nesta caminhada, e que era das pessoas mais inteligentes que já vi, marcava em pauta, em quase todas as Disciplinas, o máximo de nota, 20. Lembro-me que uma Professora muito nossa amiga, perguntou-lhe: Ó Conceição, qual a Disciplina que gostas mais? - resposta: Nenhuma! Mas dou-me bem com todas! - gargalhada da Professora. 
Guardo as melhores recordações daquele tempo, a todos os níveis, desde Professores, colegas, pessoal auxiliar, do melhor. Sempre nos trataram com respeito, tendo em conta que estávamos para trabalhar a sério e não para passar tempo. 

Ainda hoje, certos Professores afirmam, que nós fomos o melhor que apareceu no Ensino Nocturno, o que muito me honra. 

A partir daí, ficou o bichinho de ir até à Universidade. E por que não? Disse-me alguém!!! Porque estou dedicada à família. Mas ainda me interrogo, se não fiz mal, enquanto foi tempo, não frequentar a Universidade. Se calhar, ainda iria a tempo, pois nunca é tarde para aprender. 

Novos projectos estão surgindo na minha vida, e tudo porque de repente, começo a escrever o que me vai na alma. Já me lançaram reptos irrecusáveis, e estou pronta a aceitar, por enquanto, estão no segredo dos deuses. 

A mensagem que eu quero deixar, é que, não estejam preocupados, (aqueles que têm filhos), em deixarem heranças. Ofereçam um Curso aos vossos filhos, a melhor herança que lhes podem deixar. Nada me faz tão feliz, como o conhecimento. Um Mundo infindável!!!  

02-10-2018
Graziela Veiga

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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