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quarta-feira, 22 de maio de 2019

De Osvaldo Cabral jornalista e diretor do jornal Diário dos Açores -A saga das empresas públicas


A saga das empresas públicas

A saga das “fake news” das empresas públicas regionais prossegue semanalmente.

Mais duas empresas vieram anunciar lucros: a Ilhas de Valor e a Azorina.
Fazem a festa, atiram os foguetes e apanham as canas, sem divulgarem as contas completas, para não vermos quantas subvenções e subsídios públicos receberam ao longo do ano.

A Ilhas de Valor, em 2017, tinha lá no relatório final um subsídio à exploração de 2,6 milhões. 

Quanto terá recebido o ano passado? Mistério!

Esta empresa de “resultados positivos” é a mesma que foi à banca pedir dinheiro emprestado para comprar, por 6,6 milhões de euros, os campos de golfe da Batalha e das Furnas, que tinham sido vendidos há alguns anos por 9 milhões, mas que, na retoma, já tinham consumido à mesma empresa pública (Ilhas de Valor), que geriu os campos nestes últimos anos, cerca de 9 milhões de euros!

Ou seja, como já tinha aqui denunciado, primeiro o governo vende de forma atabalhoada, depois é obrigado a gastar 9 milhões para manter os campos, e depois paga ainda mais 6,6 milhões aos fundos dos bancos falidos para recomprar os campos. Grandes negócios!

E vêm anunciar lucros, gozando com a cara do pagode.

A Azorina, a tal que gere parques e redes de Centros Ambientais e Ecotecas, também diz que deu 94 mil euros de lucro, mas não diz quanto recebeu de subsídios e se já pagou o que devia. 

Fica outro mistério para descobrir mais tarde, mas sabemos que esta empresa pagava em salários o mesmo que recebia em subsídios: mais de 2 milhões de euros anuais.

Em 2016 recebeu quase 2,5 milhões de euros em subsídios e teve 2,431 milhões de euros de gastos com pessoal.

Registou um valor de vendas de cerca de 777 mil euros e mesmo assim teve um resultado do exercício negativo (-318.344 euros, ou seja 41% das vendas).
A Azorina tinha, naquela altura, 119 funcionários, mas agora há a acrescentar os da Caldeira Velha, para agravar, com toda a certeza, o seu brutal endividamento, que já ia em mais de 6 milhões de euros (mais do dobro dos proveitos!).

Ficamos a aguardar a próxima “notícia” de mais alguma que fabrica lucros à custa de subsídios dos nossos impostos.

E assim se faz as contas de mercearia do nosso mundo público.


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OUTRA SAGA - Isto de empresas públicas, é só escolher qual delas estará pior. 
Todos os anos temos histórias fantásticas sobre a maravilhosa gestão de cada uma delas. 

A Atlânticoline, claro, não podia perder a pedalada, pois todos os anos é notícia pelos piores motivos.

Ao não conseguir trazer o navio sucata previsto para as Festas do Senhor Santo Cristo (nem imaginação para baptizar o barco - “Azores Express” é o nome de uma empresa da SATA), anunciou uma alternativa meia manca para os passageiros das ilhas do triângulo: coloca-os num dos barcos do canal e leva-os até à Terceira para tomarem o avião para S. Miguel.

Um amigo daqueles lados fez-me as seguintes contas, que qualquer cidadão atento - e atónito - também fará: uma viagem inter-ilhas de ida e volta para residentes entre Terceira e Ponta Delgada fica sem restrições nos 118,19 euros e entre Pico/Faial ou São Jorge e Ponta Delgada fica por 119,05 euros. 
Qual é a poupança de meter esta gente do triângulo no Gilberto Mariano para a Terceira, com todo o gasóleo que gasta, associado depois à despesa da viagem de avião para Ponta Delgada?

Quem paga a saga? 

Nós, contribuintes, ou o contrato com a empresa que deveria entregar o barco recauchutado prevê penalizações? Quanto? Dá para cobrir esta operação inesperada?

Mais um mistério de uma empresa pública a descobrir mais tarde, mas convinha ir pondo as barbas de molho e contratar já os barcos para os próximos anos...

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A PRÓXIMA SAGA - Parece que vem aí uma greve na SATA. 

À parte a justeza e oportunidade dela, as considerações invocadas pelos tripulantes de cabine são correctas.

É mais uma empresa pública a colher as tempestades que semeou.
Alguma empresa pública funciona bem nesta região?

Rezemos, então, ao Senhor Santo Cristo para que derrame um milagre em todas elas.

Maio 2019
Osvaldo Cabral 
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimédia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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