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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Do poeta, escritor, jornalista Luís Fernando Veríssimo - PRAGMÁTICOS


PRAGMÁTICOS

Estados Unidos e China estão na fase de jogar areia nos sapatos um do outro. Ninguém sabe como isso vai acabar. Do imprevisível Trump se espera tudo, inclusive nada. Mas a China é como a Internet. Todo mundo sabe que uma coisa daquele tamanho, com tanta gente, tem quase a obrigação de dominar o mundo, ou a economia mundial. O tamanho do mercado potencial chinês, mais de um bilhão de pessoas produzindo e consumindo sem parar, transformou o velho império num paradoxo pragmático. Os chineses não veem problema em serem capitalistas de mercado e seus antigos inimigos não se importam de fazer negócios com paradoxos. Não se perde muita coisa bloqueando Cuba e o Irã. Despreza-se quase um quarto da população mundial discriminando a China. Mas a China não parece muito interessada em apressar o processo que fatalmente lhe dará o mundo.

Nem tudo é ideal no novo império. Com sua abertura controlada para investimentos externos e multinacionais, a China quintuplicou sua economia nos últimos 20 anos. Mas as esperanças mais otimistas, de gente que sonhava com fortuna instantânea se conquistasse apenas meio por cento do mercado chinês, estão sendo frustradas. Descontando-se os 900 milhões de camponeses e os urbanos economicamente marginalizados, sobra uma classe média equivalente à dos Estados Unidos, com uma renda média muito inferior e hábitos de poupança mais conservadores. Algumas empresas estão dando certo no complicado mercado chinês, mas 60% dos investidores estrangeiros ainda não ganharam nada, e os que ganham, ganham pouco. Uma das coisas com que os estrangeiros não contavam é que haveria empresas chinesas, mais acostumadas com a burocracia e a corrupção locais, disputando o mesmo mercado. De qualquer maneira, como no caso da Internet, cedo ou tarde a lógica prevalecerá. E estaremos todos produzindo para vender ou comprar na China.

Que país de tamanho parecido com o nosso serviria como modelo para o Brasil, excluídos os próprios Estados Unidos? Para defender uma imitação da China, só fazendo como aquele enólogo francês contratado para produzir vinhos iguais aos da França na Califórnia que, depois de plantadas as videiras e instalados os equipamentos, disse: “Pronto, agora só falta esperar 300 anos”. O grande modelo para o Brasil dar certo talvez seja o próprio Brasil – nenhum outro tem as mesmas características, história, etc. – mas com outro começo. A China ficaria como um exemplo de como é possível ser pragmático sem ser submisso.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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