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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Rolando pelo facebook - Intervenção de José Andrade


Intervenção proferida no lançamento do livro “À Procura da Diáspora”, de João Carlos de Melo, esta terça-feira em Ponta Delgada:

“Senhora Diretora Regional da Energia, Doutora Andréia Carreiro, em representação do Governo dos Açores

Senhor Comandante Operacional dos Açores, Vice-Almirante Bastos Ribeiro

Senhor Comandante Zona Marítima dos Açores, Comodoro Croca Favinha

Senhora Deputada Municipal Graça Silva Machado

Senhor Conselheiro das Comunidades Portuguesas nos Estados Unidos da América, João Luís Pacheco

Minhas Senhoras e Meus Senhores

Desde o povoamento das ilhas que os açorianos vivem… À Procura da Diáspora!

Mas remonta ao século XVII o caráter sistemático da emigração açoriana.

Foram cinco os grandes destinos dos nossos emigrantes: Brasil, Estados Unidos da América, Bermudas, Havai, Canadá.

A nossa primeira grande emigração foi com destino ao Brasil meridional, em 1748, com a saída de seis mil açorianos, organizada pela coroa portuguesa, para povoar o território litoral correspondente aos atuais estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Cem anos mais tarde, por meados do século XIX, os Estados Unidos da América afirmam-se como destino efetivo e preferencial da emigração açoriana.

Pela mesma altura, a partir de 1849, as Bermudas são o terceiro destino da emigração especialmente proveniente da ilha de São Miguel.

E no final do século XIX, os micaelenses chegam ainda mais longe com uma emigração descontinuada para as ilhas do Havai, já no Oceano Pacífico.

O Canadá foi o último grande destino dos açorianos em geral, com emigração sistemática iniciada apenas em 1953, mas depressa se afirmou como um dos dois maiores países acolhedores da nossa diáspora.

Importa aqui destacar o caso específico dos Estados Unidos e, em especial, da Califórnia.

Os açorianos sempre cruzaram o Atlântico em busca de melhores condições de vida e a passagem das baleeiras norte-americanas pelo arquipélago motivava a aventura de partir à procura da diáspora.

Inicialmente, ocupavam-se os nossos emigrantes em atividades relacionadas com a pesca, a pecuária, a indústria têxtil.

Desde então, milhares de açorianos emigraram para as terras de Kennedy, sobretudo nas décadas de 60 e 70.

As comunidades açorianas encontram-se, principalmente, na Costa Leste, nos Estados de Massachusetts e Rhode Island, e na Costa Oeste, no Estado da Califórnia.

Estas comunidades constituídas por açorianos de todas as ilhas transportaram para a grande nação americana as mais representativas tradições culturais dos Açores, como as festas em louvor do Divino Espírito Santo e do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

Segundo os censos norte-americanos de 1990, a Califórnia é o Estado com mais presença portuguesa, totalizando oficialmente 346 mil emigrantes, maioritariamente originários dos Açores, especialmente das ilhas do Grupo Central.

Alguns deles e seus descendentes evidenciam-se na economia estadual e mesmo na política federal.

A Califórnia é o estado mais populoso do país, com 37 milhões de habitantes, e San Francisco é uma das suas quatro cidades maiores.

Foi para esta cidade, banhada pelo Pacífico, que emigrou, em 1966, João Carlos de Melo.

Nascera 25 anos antes, em 1941, na ilha de São Miguel, no concelho de Ponta Delgada, na freguesia de São Roque.

Tinha cinco anos de idade quando a sua família se mudou para a própria cidade de Ponta Delgada, fixando residência na Rua Barão das Laranjeiras.

Completou o Curso Comercial na antiga Escola Industrial e Comercial de Ponta Delgada, curiosamente, como colega da sua futura esposa, Donalda de Melo, com quem tem três filhos e sete netos.

Serviu a sua Pátria no Exército Português durante quatro anos, incluindo uma missão de 29 meses em Angola.

Quando emigrou para a Califórnia dedicou-se à atividade bancária, no Bank of América, durante 33 anos, chegando a assumir a sua vice-presidência nos últimos dezassete.

Profissionalmente aposentado em 1999, ainda dedicou mais 13 anos como consultor de gestão de pequenas empresas.

Reside agora em San Ramon, uma cidade com 72 mil habitantes a 55 quilómetros de San Francisco, que não regista presença significativa de imigrantes portugueses, mas adquiriu uma casa na ilha de São Miguel para "matar saudades" da sua terra mais frequentemente e mais demoradamente.

Os números da sua profissão sempre conviveram com as letras da sua vocação.

Escrevia artigos, em inglês e em português, no "Portuguese-American Chronicle", da cidade de Tracy, de que chegou a ser co-proprietário e gerente, bem como no "Tribuna Portuguesa", de Modesto, e no "Jornal Luso-Americano", de Newark.

Em 2012, publica o seu primeiro livro, Simple Wonders, e o segundo em 2014: Chasing the Dream.

O primeiro é um livro de memórias, para "testar" a sua capacidade de escrita.

O segundo é um livro de histórias, para "deixar a pena fazer o trabalho da boca", como ele próprio declarou em entrevista recente.

Participa ainda num terceiro livro de autoria coletiva, Untamed Dreams - Faces of America, editado em 2016.

É o seu segundo livro em inglês que dá origem a este seu primeiro livro em português.

À Procura da Diáspora – Duas Cartas Para Margaret acaba de ser publicado pela Edições Colibri, em Lisboa, e tem hoje lançamento mundial na cidade-berço do seu autor, pela mão da Câmara Municipal de Ponta Delgada em pleno regaço literário do Centro Natália Correia.

Este primeiro grande romance de João Carlos de Melo, que se estende por 480 páginas com 30 capítulos, merece ser apresentado, melhor do que eu, pelas palavras que nele se encontram impressas.

Logo a abrir, o próprio autor sintetiza o seu propósito: “Se o romance é baseado e afirma-se em ficção, o resultado final representa e oferece experiências com as quais qualquer emigrante se pode identificar”.

Esta ideia é sublinhada na nota seguinte da tradutora e revisora Virgínia da Luz Tarver, professora aposentada da Universidade Estadual de San José da Califórnia.

Ela assume “manter a veracidade de tudo ao ficar ciente de que o autor misturava a ficção com a realidade”.

Na sua opinião, “é este ingrediente que faz com que este romance seja interessante e informativo. Não só serve de roteiro de viagem para São Miguel, mas também descreve habilmente e em pormenor as esperanças, os desejos e os desafios que o imigrante encara ao sair do seu país em busca de uma vida melhor, mantendo-se sempre fiel aos seus valores de origem”.

Ainda nas suas palavras, “o romance não só segue as vidas de dois imigrantes, mas também é um estudo da psicologia humana. Presenciamos como encaram e vivem as suas vidas num país diferente, neste caso, os Estados Unidos. (…) E tudo isto é arrematado pelas descrições belas de vários sítios e tradições na ilha de São Miguel”.

A Nota de Abertura, da autoria de Reinaldo Francisco Silva, confirma essa mesma ideia de que “o autor evoca também neste romance a realidade açoriana que ele tão bem conhecia, com a potencialidade de atrair o leitor/viajante norte-americano até aos Açores”.

Segundo este professor auxiliar da Universidade de Aveiro, À Procura da Diáspora é um romance empolgante, impecavelmente bem redigido e construído. Tem uma estrutura narrativa e temporal que inicialmente nos parece complexa, mas mais facilmente apreensível à medida que o leitor se vai embrenhando neste enredo sobre a emigração açoriana para os Estados Unidos da América.”

Cito ainda a Nota de Abertura: “Explorando o mito do sonho americano, de subir na vida a pulso e com trabalho árduo, o romance incide sobre uma via de emigração pouco usual. Sob a capa de dois casamentos por conveniência, a densidade dramática intensifica-se quando os dois protagonistas – os jovens emigrantes micaelenses Sílvio e Ben – se apaixonam por Margaret, que irão desposar em diferentes momentos da narrativa.”

Mas não devo desvendar o enredo do livro. Só me cabe motivar, sem prejudicar, o prazer da leitura.

De resto, À Procura da Diáspora – Duas Cartas Para Margaret é um livro recomendado pela imprensa portuguesa dos dois lados da América.

O "Jornal Luso-Americano", de New Jersey, considera que “o desejo pelos enredos, a construção das personagens e a recolha das suas experiências constituem a pedra de toque para este romance”.

O jornal "Tribuna Portuguesa", da Califórnia, acrescenta que João Carlos de Melo “é um nato contador de estórias. A fluidez da sua escrita advém do profundo conhecimento que tem da psicologia humana e da sua grande experiência da diáspora. (…) Tem uma escrita escorreita e de fácil envolvimento de quem o lê e o admira.”

Em suma, estamos perante um romance escrito com o coração dividido entre dois países.

Que bem merece ser conhecido hoje em Portugal e reconhecido amanhã na América.

Porque os seus personagens, embora com as circunstâncias diferentes e próprias do nosso tempo, protagonizam afinal os mesmos sonhos e os mesmos desafios dos primeiros emigrantes açorianos do século XIX.

Mudam-se os tempos, mas mantêm-se as vontades À Procura da Diáspora...

Diáspora, no sentido metafórico de "emigrar" para uma vida melhor, que tanto pode ser encontrada no outro lado do Atlântico, como aqui, na nossa própria terra!”

José Andrade
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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