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quarta-feira, 29 de maio de 2019

Sacerdotes que viviam o futebol


Conheci poucos sacerdotes que viviam o futebol como o Padre Lucas, de São Brás. Nem me lembro se o Padre Roberto, de Santa Bárbara, outra figura dos “chamados castiços”, gostava de ir à bola. Os barbarenses é que devem saber melhor do que eu. Mas tenho as milhas dúvidas que fosse assíduo espectador do futebol. Claro que, mais recentemente, tivemos o padre da Vila Nova, esse sim sempre presente e, inclusive, levava sempre consigo uma bandeira alvinegra, para além de se misturar com a claque no sentido de incentivá-la a constante apoio à equipa do Vilanovense. E manda a verdade dizer que, nesse sentido, teve muito influência esse pároco que se tornou numa figura de proa no seio das gentes da laboriosa freguesia da Vila Nova. Não me lembro de outros sacerdotes assim tão ligados de perto ao futebol, isto é, vivendo-o com intensidade por via das suas próprias facções clubísticas. 

Lendo um artigo sobre o lançamento do livro o “Chafariz da Cerveja” em que no seu discurso o autor do mesmo, José Liduino Borba, faz referência a uma frase do Padre Lucas, sobre a morte de um burro, lembrei-me de trazer à estampa outra interessante história em que o Padre Lucas se envolveu com o nosso querido amigo, Elvino Coelho Bettencourt, e que ocorreu pertinho da Loja do Adriano, após um jogo em que o Lusitânia defrontou o Angrense, salvo erro. Como era sabido, o Padre Lucas era um grande lusitanista, mas, como dava para entender, não percebia patavina de como uma equipa devia estar colocada no terreno. Ele sabia do “seu futebol” que nada tinha a ver, técnica, táctica e fisicamente falando, com o que se praticava no regional. Mas, contudo, era de louvar o seu entusiasmo, tratando-se de um sacerdote, o que não era muito usual. Hoje as coisas são diferentes, claro está. Mas essa história do Padre Lucas, a que assistimos, deu para passar o dia a rir quando se contava aos amigos o episódio. Naquela manhã, o Padre Lucas encontrou Elvino Bettencourt no local que já mencionamos e começou a troçar impressões sobre o jogo da véspera. A dada altura, o Padre Lucas saiu-se com esta: “ó Elvino tens que jogar com onze atrás e onze à frente”. Tive que aguentar para não desatar a rir naquele momento, mas o nosso amigo Elvino, com toda a calma, contrapôs com a lógica racional de quem está dentro do futebol e era um treinador de reconhecidos méritos: “ó Padre Lucas, eu só passo jogar com onze”. Sem saber o que dizer sobre a questão por ele levantada, erradamente, o Padre Lucas despediu-se e foi à sua vida. Creio que nunca mais o Padre Lucas disse a nenhum treinador que devia jogar com onze atrás e onze à frente. Até não era impossível, se mudassem a lei para 22 de cada lado e num campo com 270x135 metros. Mesmo assim, não sei se estas dimensões dariam para o efeito. O melhor é colocar 300x160, ou seja, comprimento 300 metros e largura 160. Assim talvez chegasse para serem evitados choques constantes. 

Pois é, Padre Lucas, onze atrás e onze à frente! Talvez um dia essa experiência passe pela FIFA.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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