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segunda-feira, 10 de junho de 2019

Da escritora Graziela Veiga - A MANIA DE SUPORTAR A "CRUZ" DO OUTRO...


A MANIA DE SUPORTAR A "CRUZ" DO OUTRO...

Desde há muito, que tenho suportado a dor e o sofrimento dos outros, ou seja, o que não é meu, que não me pertence. 

Cansada de uma vida de luta, por vezes inglória, estou a ficar mais reservada no que toca a esse aspecto. Já não corro por causa de ninguém, pois não vale a pena e as coisas resolvem-se mesmo sem mim.

Tenho que cortar com o hábito de fazer o trabalho dos outros e o meu, pois acabo exausta, e no fim, ninguém me dá o devido valor. Não que o faça para ser reconhecido, mas qualquer pessoa normal, gosta que o seu trabalho seja valorizado. 

Pensava que ao fazer determinadas tarefas para alguém, estava a ajudar. Nada mais falso. Estava a habituar as pessoas mal, pois quando dei por mim, tinha criado dependência e maus hábitos. 

Se voltasse atrás, faria as coisas diferentes. Teria praticado o bem, sim, mas não de forma a prejudicar-me, como tantas vezes aconteceu. 

Se me perguntarem se estou arrependida? Talvez seja sim e não. Arrependida de ter perdido tempo com quem me tratou tão mal. Não estou arrependida por outro lado, pois tenho recebido a recompensa inesperada de outras pessoas, mas mais ainda de Deus. 

Por que levei tanto tempo a aprender? Penso que por acreditar nas boas intenções das pessoas, por ser ingénua. Sempre achei que as pessoas são melhores do que realmente são. Sempre tive a mania de esperar que as pessoas mudem. Falsa esperança! As pessoas não mudam. O que poderá mudar é a minha forma de olhar para elas depois de conhecer o seu íntimo. Se bem que acredito que não conheça verdadeiramente ninguém. A pessoa que conheço um pouco mais, vem a ser a minha filha. No entanto, tenho algumas reservas, pois o amor que eu tenho por ela, atraiçoa-me. As mães são assim. Nós vemos os defeitos dos nossos filhos, no entanto, não queremos que os outros nos digam o que nós sabemos mas omitimos. 

Aí é que se vê a diferença entre amar e gostar. Quem ama, jamais permitirá que alguém fale daquele ser que nos é caro. E a maioria das pessoas quando quer ser mesmo má, atinge-nos no nosso ponto mais fraco, simultaneamente o mais forte, o amor aos nossos filhos. Não há nada que nos magoe tanto! 

Por tudo o que já aprendi, quero viver mais a minha vida, com altos e baixos, como todos. Não quero ser descartável, ou seja, só se lembram de mim quando precisam. Cansei! 

Quero a minha vida com tudo o que lhe é peculiar, alegrias e sofrimentos. Essa é legítima. Não obstante ajudar os outros que precisam, mas nunca criar dependências, habituação, já que cada um tem a sua missão. 

Cada vez mais, quero viver a minha vida e tudo que lhe é inerente. Estou a conseguir esquecer muita coisa que só me prejudicava, cansava em vão. Pensei não ser possível, mas tudo é possível quando nos empenhamos.

10-06-2019
Graziela Rocha Veiga
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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