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terça-feira, 18 de junho de 2019

Da escritora Graziela Veiga - SANTA IGNORÂNCIA!!!


SANTA IGNORÂNCIA!!!

Há anos, trabalhava para a Diocese, simultaneamente Cartório Interparoquial - Zona Pastoral de Angra, na Igreja da Sé. 

Naquela altura, o Sr. António era o Sacristão. Um homem com muito sentido de humor, disfarçado, por vezes, de lunático, mas muito observador. Devo dizer que passei momentos inesquecíveis com aquele Senhor que, pelo facto de ter sido criado no Orfanato, pertencer a uma família de classe, brasonada, isso nunca disse nada, pois desconhecia na totalidade as suas ascendências nobiliárquicas. 

Então, certo dia, estando eu à conversa com o Sr. António no meu posto de trabalho, Cartório, veio uma pessoa bater à porta. Mandei que fizesse o favor de entrar e perguntei ao que ia. A pessoa disse-me que não desejava nada do Cartório. Apenas queria saber se a Sé era uma Igreja "macho". Fiquei intrigada, pois nunca tinha ouvido esta classificação para as Igrejas. E perguntei o significado dessa pergunta. Então, a pessoa adiantou que precisava saber se o Padroeiro daquela Igreja, era masculino ou feminino. Eu respondi-lhe que era a Igreja Catedral de São Salvador, portanto era "masculino". 

Depois, vim a saber o que se passava. As pessoas iam consultar as benditas "benzedeiras" e depois tinham que ir pedir água benta a três Igrejas cujo padroeiro fosse masculino. Além da água benta, também pediam incenso. 

Logo, o Sr. António, habituado mais do que eu a estas andanças, interveio. E perguntou o que desejava. 

Então, o dito senhor queria água benta e incenso. A resposta do Sr. António não se fez esperar. 

- Empreste-me a garrafinha que eu já lhe trago a água benta. 

E lá foi buscar a "água benta" . No regresso, quando ia a entregar a "água benta", a pessoa acrescentou - eu também queria incenso - responde o Sr. António. 

- A água benta está aqui. Incenso vá comprar que eu também compro. 

Depois da pessoa ir embora, diz o Sr. António. A água benta, enchi-a na torneira e o incenso ele que vá comprar. (risos) 

E assim, depois deste caso, outros surgiram. Pessoas bem mal julgadas, mesmo da alta sociedade da nossa cidade, daquelas que vão à missa e tudo. Até pertencem a determinadas confrarias. Por incrível que pareça, também recorriam a estes serviços com o fim de fazer feitiçaria. Digo recorriam, pois não sei se ainda acontece. O que eu sei é que, enquanto o Sr, António foi Sacristão da Sé, levaram água da torneira.

13-06-2019
Graziela Rocha Veiga

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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