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quarta-feira, 5 de junho de 2019

Marítimo de outrora e a horta da Tia Nativa


Marítimo de outrora e a horta da Tia Nativa

Quando se fala no Corpo Santo, do passado, óbvio que a coletividade Sport Clube Marítimo está quase sempre na ordem do dia. Nos tempos que correm, fala-se do basquetebol do Clube Juvenil Boa Viagem, sem dúvida a grande referência do nosso bairro.

Retornando ao Marítimo, tema de hoje (mais um), o clube que nunca ganhava nada em termos de campeonatos e taças, conseguiu um desiderato num torneio relâmpago (jogos de 40 minutos divididos em duas partes de 20) de homenagem a dois jogadores (um do Marítimo e outro do Angrense, respectivamente o filho mais novo do José Tomás e o Osvaldo, este último posteriormente emigrado para o Canadá) que integraram a Companhia de Expedicionários que naquela época partiu para a Índia, em defesa do património português, ou seja, Goa, Damão e Dio, que mais tarde os indianos chamaram a si com uma invasão de certo modo inesperada, mas aconteceu.

Ora, quando menos se pensava, o Marítimo derrotou o Angrense e o Lusitânia ambos pelo mesmo score (1-0), conquistando assim o troféu para gáudio de todos os maritimistas, habituados a tantos insucessos ante os dois adversários de Angra, sem dúvida mais poderosos e que, normalmente, nos confrontos diretos com os azuis, aplicavam cabazadas. Mas nem por isso o Marítimo deixou de existir e, anos volvidos, acabou com a hegemonia do Lusitânia, sagrando-se campeão de ilha e dos Açores e daí representar o arquipélago na Taça de Portugal, perdendo com o Riopele (na I Divisão) por 1-0.

A conquista da Taça Expedicionários foi motivo para alvoroço no Corpo Santo. A equipa e o seu pequeno grupo de adeptos desceram a Rua de Oliveira, passaram pela Rua Direita, Rua de Santo Espírito, subida da Rua do Morrão e, finalmente, chegada triunfal ao nosso bairro com festa rija na esplanada do clube. Todos queriam beber vinho do Porto pela taça conquistada, até os mais jovens (como eu, por exemplo) tiveram direito a saborear o Porto (vinho) pela taça. Uma noite inolvidável com muitos sorrisos e alegria transbordante, inclusive da parte do treinador, o consagrado Manuel Lima (RIP) que, mais tarde, levaria o Angrense a Campeão Insular, acabando assim com a escandalosa hegemonia dos madeirenses, quase sempre representados pelo Clube Sport Marítimo, o poderoso Marítimo do Chino, Checa e Raul Tremura. Que grande trio atacante.

E foi assim que o Marítimo em jogos de 40 minutos, derrotando Angrense e Lusitânia, deu de beber a uma grande dor, prolongada por muitas épocas. Como se dizia na gíria popular o Marítimo “não via o padeiro à meia-noite”.

 A HORTA DA TIA NATIVA - E quem não se lembra da Tia Nativa, que morava bem ali em frente ao Café Matateu, cujos proprietários eram um filho e um genro. O genro já falecido e o filho, casado com uma filha do tio Augusto Ávila, não sei. Mas formulo votos que se encontre no rol dos vivos. A tia Nativa sentia-se sempre mais feliz (em relação ao que era durante 11 meses) quando, em Agosto, outro filho, João Pimentel, vinha de Santa Maria passar férias com a esposa e os dois filhos. Para nós, jovens daquele tempo, também era uma enorme satisfação receber e brincar com o filho do João, o Hélder Pimentel, hoje um aposentado na ilha de Santa Maria e que ali, em tempos idos, na minha missão jornalística, me recebeu de braços abertos e dele sempre contei com o apoio desejado. Felizmente, que essa amizade ainda hoje perdura, visto que ele faz parte do meu grupo de 1900 amigos do facebook. Mas, retornando aos netos da tia Nativa, o Paulo Jorge e o José Gabriel, filhos do Francisco “Gato” (nunca houve “gato”, uma transparência de se lhe tirar o chapéu), também andavam por ali nas brincadeiras dos polícias e ladrões, mas, do futebol muito menos. O José Gabriel foi presidente do Marítimo na época em que o clube, finalmente, acabou com a escandalosa hegemonia do Lusitânia, venceu a prova açoriana e recebeu o Riopele para os oitavos-de-final da Taça de Portugal perdendo por 1-0. O Paulo Jorge é, sem dúvida, um dos maiores sustentáculos do Clube Juvenil Boa Viagem como presidente. Também, um excelente apoiante nas iniciativas em prol da igreja da Boa Viagem.

A tia Nativa tinha ali no Caminho Novo a pequena horta e sempre passava por lá, e o marido, com todo o carinho, cuidava daquele pedacinho de terra que ficava entre uma parte do adro da igreja da Boa Viagem e a casa da D. Alvarina, tia (hoje é uma mistura de tias e tios) do Alexandre Barros. Claro que jogávamos à bola naquele pedacinho, mas não havia nada a fazer: a bola caia no cerrado da mãe do Daniel (o “nosso padre”) ou ia parar para o cerrado da tia Nativa. Pior quando caia no cerrado da mãe do Daniel que era má nem as cobras. A tia Nativa, com toda a sua bondade (era mesmo), só nos dizia: meninos tenham cuidado com o que está plantado, não coloquem os pés em cima do que está plantado. Mas havia sempre um malandro que, na época própria, saltava o muro e “roubava” um cacho de uvas, muitas vezes com os netos (José Gabriel e Paulo Jorge) por ali perto. Repito: era uma bondade de senhora, aliás, como toda a família. E tive o grato prazer de, em dezembro de 2010, na ilha Terceira, ter estado com o Paulo Jorge num jantar do pessoal do Canto da Caixa e com o José Gabriel em um almoço que decorreu no restaurante do Jorge da Tamar, na praia dos sargentos (Praia da Vitória).

E, hoje, recordamos, com aquela saudade de puro sentimento, a figura da tia Nativa.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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