HÁ UMA PRISÃO DENTRO DE GUNGUNHANA
Gungunhana é agora o Rei da Muralha
Do Fosso e das Portas Falsas
Livre de lugar nenhum
Apenas Rei da Graça de Deus.
O corpo rejeita-lhe da alma a vida,
As acácias, as faias, o casario e o mar.
Povoam-se-lhe em gritos as planícies, a noite quente,
As fogueiras e os corpos não mais despidos pelo chão;
Mordem-no risos mortos e o vazio em tudo -
que é nada esta Muralha, o Fosso e as Portas Falsas.
O Rei já não sabe se ainda é homem
E o homem que também já nada sabe
É apenas, amargamente, Rei do Rei
E o Rei vassalo do homem.
E o homem que é Rei verte-se vazio como
Negras saudades de suas longínquas
E impossíveis mulheres…
Delira no catre preso de não haver braços
Envolvendo-lhe nem o Rei nem o Homem
E vai caindo atónito e tolo dentro de si
Que não mais ardem fogueiras na noite!
Angra, 23.03.2018
(a minha singela homenagem a um dos reis presos nesta pequena Ilha Terceira)
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