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sábado, 20 de julho de 2019

Da Califórnia de Luciano Cardoso - SALTO GIGANTE


SALTO GIGANTE

Já várias vezes tentei fechar os olhos para abarcar uma ideia do Cosmos que nos alberga, mas não consigo. Perco-me pelo caminho. O Universo é imenso. Parece mesmo infinito. As galáxias multiplicam-se e o nosso olhar rende-se facilmente ao fascínio inimitável duma linda noite estrelada. Não é fácil disfrutá-la aqui, na ultra iluminada área da Baía de San Francisco, onde moro há quarenta e um anos, com aquele mesmo fulgor com que nos brindam os atlânticos céus a abraçarem as nossas mimosas Ilhas de Bruma, onde morei por vinte e dois.

Há meio século, ainda não havia eletricidade pública no cantinho que me viu nascer lá ao norte da redondinha Ilha Lilás. Velas, candeias e candeeiros alumiavam o anoitecer no aconchego de cada lar enquanto o luar se encarregava de fazê-lo cá por fora aliado ao brilho das estrelas e dum ou outro cometa que nos maravilhava o olhar de assombro. “Quem terá criado assim tão complexa infinitude...?” Era uma ingénua pergunta com resposta fácil para meu avô. “Olha bem lá para cima, rapaz. O criador está nos céus.” Ele e o seu restrito grupo de amigos filósofos ali da vizinhança assim haviam aprendido em meninos.

No verão de 1969, então menino e moço estudante gozando as minhas “férias grandes”, vi o dia 20 de julho ficar gravado com letras de oiro na história da humanidade. As notícias de foro mundial parecia que demoravam mais a chegarem à Ilha, mas esta veio depressa dar brado imediato – “os americanos aterraram na lua.” Acabado de ouvi-la no velho Grundig do Ti Manel Sapateiro, passei-a logo àquele castiço grupinho de pensadores à moda antiga que faziam companhia a meu avô ali à boca da Rua de Mangas pegada à Canada do Caldeiro. “Eh rapaz, vai-te acabar de criar.” Fizeram-me rir e também raciocinar. “Às coisas de Deus, o homem vai-lhe custar muito a chegar.” As palavras saíram severas da boca do sr. Frank Barcelos, reformado trabalhador de longos anos na Califórnia onde muito ouvira falar da desmedida ambição do programa espacial norte-americano.

“One small step for man, one giant leap for mankind”. “Um pequeno passo para o Homem, um salto gigante para a Humanidade”. Foi assim que Neil Armstrong desabafou para a História Universal esse fabuloso feito de monumental significância nos meus sessenta e três anos de vida. Dois meses e meio depois, com a arrancada do seguinte ano letivo, veio a atividade desportiva e lá formámos as nossas equipas de futebol juvenil. À minha, jamais esquecerei, pusemos o sugestivo nome de Apollo 11, em honra a essa histórica nave espacial a aterrar em solo lunar para espanto do mundo inteiro.

Volvido todo este tempo evaporado quase num sopro, dá-me a nítida impressão de que a corrente geração dos nossos filhos e netos altamente dependentes dos seus televisores, telemóveis, computadores e demais utensílios informáticos, ainda não consegue fazer bem uma ideia do que era um potente foguetão aventurar-se no espaço à supersónica velocidade de vinte e quatro mil milhas à hora para galgar, em cerca de três dias, a colossal distância das quase duzentas e quarenta mil milhas que nos separam da lua. Naquele tempo foi mesmo qualquer coisa do outro mundo – um evento já então seguido nas velhinhas televisões do planeta por mais de meio bilião de pessoas atónitas com o que viram.

No atlântico meio rural das nossas pequeninas ilhas açorianas, via-se bem a lua rodeada de estrelas lá no alto e até parece que ainda me soa ao ouvido a trocista voz do meu saudoso vizinho, o sr. Frank Barcelos, “...eh rapaz, queres que te empreste os meus óculos de aumento para poderes ver melhor as estrelinhas da bandeira americana a acenarem-te lá de riba...?” E os outros velhotes lá soltaram a sua risota ante o meu jeito atrapalhado em cata duma resposta capaz de os poder calar ali. Aqui e agora, apraz-me registar com nostálgico agrado aquela sua boa disposição então alheia ao alcance da proeza acabada de levar a cabo pelos heroicos tripulantes do triunfante Apollo 11.

Foi uma conquista fenomenal que ainda hoje me deixa boquiaberto ante o fabuloso progresso tecnológico que desse importante dia adveio para todos nós a habitarmos este magnífico planeta girando sem folga à volta do lindo sol que nos aquece e alumia os dias aos anos das nossas curtas vidas.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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