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terça-feira, 2 de julho de 2019

Da escritora Graziela Veiga - DEIXAR DE EXISTIR...


DEIXAR DE EXISTIR...

Às vezes, pensamos que deixar de existir é deixar de estar. Não é bem assim. Deixar de existir, é apenas outra forma de estar. 

Quando alguém existiu na nossa vida, deixou algo de seu que ficou e permanecerá para sempre. Um amigo, uma pessoa que nós quisemos muito bem, todos aqueles que nos amaram e que nós amámos. 

Tal como a chuva. Não é pelo facto de ter parado de chover que a chuva deixou de existir. Ela deixou o seu efeito, ou seja, ela regou os campos, as flores, abasteceu o Universo, portanto, cumpriu a sua missão. Deixou-nos a sua memória em tudo que tocou e voltará novamente para que nós nos lembremos que ela por algum tempo não existiu porque os nossos olhos não a viram, não cheiramos a terra molhada, mas ela nunca deixou de estar. 

Assim, são as saudades de alguém que parte das nossas vidas. Essas pessoas deixaram de existir, mas não deixam de estar, pois é impossível nós convivermos com alguém sem que esse alguém mude alguma coisa em nós, deixe muito de seu e leve algo de cada um de nós. Isso acontece sempre que haja sinceridade e reciprocidade de sentimentos. 

O corpo das coisas que habitam o mundo pode morrer e pode desaparecer da nossa vista, mas nunca morrerá aquilo que nos habita, e o coração não precisa de ver para crer. Há coisas e pessoas que foram e que nunca deixarão de ser. Mesmo que deixemos de as escutar, mesmo que os seus passos deixem de se ouvir e que o seu olhar deixe de cair sobre o nosso olhar, já o som desses passos se infiltrou em nós, tal como a chuva que deixou de cair e se infiltrou na terra, assim é a luz desse olhar que se infiltrou em nós, essa marca indelével de que o nosso amor é feito. 

De todas as flores que há na nossa vida, procuremos ser sempre girassol, pois é para o sol que ele se vira, permanecendo-lhe fiel. Quando é noite o girassol se fecha tal como as nossas pálpebras, para que no outro dia nos abramos novamente esperando que o sol nos venha visitar e de quando em vez, a chuva nos venha beijar como num acto de amor. 

Nem sempre o que deixa de existir deixa de estar. Basta vermos com os olhos da alma. As coisas da alma, nem sempre são visíveis aos olhos.

02-07-2019
Graziela Rocha Veiga

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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