Leio as notícias do dia e sinto-me a entrar num romance de espionagem de má qualidade. Saber que um Ministro do meu País protegeu criminosos e terroristas em plenas funções e que os seus colegas de Governo não deram por nada, nem parecem incomodados, dá-me vontade de abanar gente, a ver se ainda há consciência nos corpos inertes que pululam por aí.
Em qualquer País do mundo democrático um escândalo como o de Tancos teria feito cair Governos inteiros, sobretudo se conjugado com a enorme tragédia de Pedrógão. Mas aqui, neste cantinho à beira-mar plantado, parece que tudo passa e arrefece se for obra de um punhado de privilegiados.
À esquerda, as bocas em tempos sempre indignadas fecham-se agora com o que antes lhes dava vómitos. À direita, a única preocupação que vejo ganhar força e espaço nos media é a de eliminar a concorrência do lado.
Dizem que temos eleições aí já ao virar da esquina, mas o que vejo é um espírito de silly season muito mais forte que qualquer réstia de espírito de serviço que ainda reste por aí.
Continuem assim, a assistir impávidos e serenos à destruição do Estado que todos juram defender com unhas e dentes, e depois queixem-se dos populismos, dos extremistas e dos Boris desta vida.
Continuem assim, a aplaudir aqueles que dizem uma coisa e o seu contrário no espaço que vai da primeira à última linha deste texto, e depois queixem-se de que os políticos são os culpados das escolhas que vocês próprios fizeram.
Continuem assim, a escolher aqueles que nos desrespeitam todos os dias, e quando derem por isso, Portugal terá entrado num processo de falência democrática sem retorno, porque não há Troika que nos resgate a essência da democracia.
Enquanto saboreiam o vosso “dolce faire niente” ao sabor de um Verão escaldante, lembrem-se apenas de um pormenor: se continuarem a deixar os pequenos interesses do dia-a-dia sobreporem-se aos valores mais altos da nação que somos, então são tão culpados quanto eles. Porque a verdade é que nas urnas, tal como na consciência, um simples saco de cimento pode pesar tanto como um qualquer saco azul.
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