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quarta-feira, 24 de julho de 2019

Da poetisa-escritora Manoella de Calheiros - Sentei-me no tempo


Sentei-me no tempo 
sem relógio nem calendário.
Acendi os faróis da memória
recordando momentos
revivendo vivências da casa de taipas
A avó Joana de lenço atado no queixo
a madrinha Ana, a sua irmã gemea
que fazem parte da minha meninice
Vejo chegar o meu pai fardado
e os meus irmãos correteando pela casa.
Sentei-me no tempo
com a alma num farrapo
pouco a pouco tudo foi indo 
pouco a pouco vejo-me impotente para abraçar
o tempo de agora
Tudo virou costas, a tudo
Faltam-me forças para entender este desprezo e abandono
para manter limpos os terrenos de todos
cuidar e limpar a casa da minha mãe
para velar gratuitamente pelo património dos outros
para aguentar o alcoolismo do meu irmão mais novo
para entender como a minha mãe ainda pode com isto tudo
tendo cinco filhos(uma falecida) netos e bisnetos e contar apenas comigo
ver apenas e falar com as minhas filhas e os meus netos
estar martirizada com um filho de 54 anos borracho cada dia e que ela sustenta
E o relógio gira imparável e no dia dos anos da TiManuela nem uma chamada, nem uma flor.
Quisera apagar o calendário e cuidar apenas a minha mãe
Há dias que me sinto arrasada
Nunca vou desistir, nunca, mas por vezes penso que tenho direito de viver, de trabalhar e de ver a minha mãe 

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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