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sábado, 27 de julho de 2019

Do jornalista Souto Gonçalves - ENTREVISTA «NÃO HÁ LIDERANÇA NO PSD-AÇORES»


ENTREVISTA

«NÃO HÁ LIDERANÇA NO PSD-AÇORES»

Ontem o jornalista da Antena 1 Açores Ricardo Freitas entrevistou-me. O resultado dessa entrevista foi para o ar no noticiário das 8h30 de hoje.

Como é óbvio a peça jornalística apenas apresentou parte da entrevista.

Solicitei ao jornalista em causa autorização para transcrever a totalidade da conversa. Ei-la:

RICARDO FREITAS (ANTENA 1 AÇORES) -- Confirma que tomou a iniciativa de pedir a convocação de uma sessão extraordinária da Assembleia de Ilha do Faial do PSD?

SOUTO GONÇALVES -- Estou na fase de recolha de assinaturas.

RF -- Os militantes mostram-se recetivos?

SG -- O que eu noto, nos contactos que tenho feito, é que há um sentimento de desânimo e, até pior do que isso, de alguma desorientação dos militantes, porque não sabem com o que é que podem contar neste momento da parte do Partido.

RF -- Que preocupações concretas têm os militantes do PSD no Faial?

SG -- Não foi um, nem dois, nem três, nem seis militantes, com quem eu falei, que me manifestaram uma grande apreensão. É dramático, mas é a verdade: há pessoas a dizerem que têm vergonha de fazer parte do PSD, de se apresentarem como membros deste partido político.

RF -- Há razões para esse dramatismo?

SG -- Eu acho que isto chegou a um ponto inadmissível na história do PSD. Já tenho alguma idade e não me lembro de o PSD ter vivido um momento tão dramático, tão difícil. Os militantes de base não estão contra a liderança do partido porque não há liderança, ela não se vê.

RF -- Alexandre Gaudêncio é o presidente do PSD-Açores para todos os efeitos.

SG -- O nosso presidente parece que está desaparecido em combate. Na comunicação social, que é um espaço onde nós, também, fazemos o combate político como principal partido da oposição, ele não aparece.

RF -- Mas o partido não é só o presidente.

SG -- A nossa lista para a Assembleia da República, nomeadamente o cabeça-de-lista, também não aparece. Os adversários já estão no terreno. Isto talvez nunca aconteceu na história do PSD e talvez também na história dos outros partidos. É uma situação muito complicada e difícil.

RF -- Em resumo: o pedido de convocação da Assembleia de Ilha relaciona-se com esta situação?

SG -- A minha ideia de pedir a convocação de uma Assembleia de Ilha é, em primeiro lugar, fazer uma coisa que se diz sempre quando há reuniões no partido: valorizar a participação dos militantes. Abrir o partido à sociedade, é também outra coisa que se diz. Mas eu acho que antes de abrir o partido à sociedade, que é muito importante, o partido tem que se abrir a si próprio, tem que ouvir os seus próprios membros. Portanto, parece-me que tem toda a lógica, perante uma situação destas, os militantes do partido serem chamados, ou melhor, terem a oportunidade de se pronunciarem sobre a situação que existe neste momento.

RF -- E qual vai ser a consequência dessa reunião?

SG -- A razão fundamental para que eu tenha tomado a iniciativa de fazer este pedido é a que acabei de referir. A Assembleia há de pronunciar-se como entender.

RF -- Mas parece que é só no Faial que isto acontece. Não há notícias sobre a realização de outras assembleias.

SG -- Dar-se-á o caso de a Assembleia de Ilha, se houver número suficiente de assinaturas, acontecer numa altura em que o PSD, não só o líder, mas o PSD todo, estar em silêncio. Não há uma figura grada ou miúda, que se pronuncie, tirando duas ou três exceções na comunicação social. De resto não vejo ninguém falar, inclusivamente candidatos à liderança do partido. É muito estranho.

RF -- Acha que estão a tentar abafar a circunstância de Alexandre Gaudêncio ser arguido?

SG -- Eu acho que abafar, mesmo que tentem não conseguem. A situação é de tal forma evidente que não se pode abafar. Este é um facto com o qual estamos a viver.

RF -- O presidente do PSD já se devia ter demitido?

SG -- Penso que sim. Ele próprio, por antecipação, o disse, ao pedir a demissão de outras pessoas que estavam em circunstâncias iguais à que ele está.

RF -- Encontra uma razão que explique a sua continuação no cargo?

SG -- O que eu temo e tenho a convicção que é isso que está a acontecer é que haja pessoas a contemporizar, pessoas oportunistas, com o seguinte raciocínio, que eu combato desde que estou dentro do PSD: esperar pela altura certa.

RF -- Todos sabemos que o sentido de oportunidade é uma grande arma política.

SG -- É evidente que na política há estratégias, há momentos, há timings. Isso tudo tem que ser avaliado. Mas eu sou contra aquela ideia de que só se deve avançar quando houver a garantia de condições para ganhar. Às vezes é preciso perder.

RF -- Alexandre Gaudêncio é um líder a prazo?

SG -- Agora não me estava a referir ao Alexandre Gaudêncio. Ele é um líder a prazo, é óbvio que sim. São todos a prazo. Quem está no partido tem que estar a prazo e se pensa que não está, está enganado. Mas é, de facto, um líder a prazo. Outros possíveis futuros líderes estão se calhar à espera que haja eleições [para a Assembleia da República], que o PSD bata no fundo, para depois aparecerem. Então nessa altura eu também sou capaz de aparecer. É muito fácil. No entanto, agora é que o partido precisa de uma alternativa, de alguém que diga, olha, eu estou aqui e quero levar o PSD neste caminho. Ninguém vê isso, infelizmente.

RF -- Os militantes do Faial querem apontar um caminho?

SG -- Eu gostava que o Faial fosse um exemplo disso, que desse um sinal neste sentido: chamar a atenção para a necessidade de se resolver o problema rapidamente, independentemente do ato eleitoral de outubro. O PSD precisa de resolver o problema porque se não o resolver está, cada dia que passa, a descer esta escada até chegar lá abaixo ao fundo.

RF -- O vice-presidente do PSD-Açores e presidente do PSD-Faial manifestou-se contra a continuação de Alexandre Gaudêncio. Acha que ele se devia ter demitido?

SG -- A posição tomada pelo vice-presidente do Faial na Comissão Política Regional é uma posição correta, no sentido de que o dr. Alexandre Gaudêncio não deve continuar. Porém, é uma posição sem consequência, por que o senhor vice-presidente manifestou falta de confiança no líder do partido, ao dizer que achava que ele não devia continuar, mas depois foi falar com ele e perguntar-lhe se tinha confiança nele, para que continuasse como seu vice-presidente. Isto é um contrassenso. Isto não está escrito em livro nenhum, nem acontece em mais lugar nenhum senão aqui.

RF -- Insisto: o vice-presidente deve demitir-se?

SG -- Há que pedir-lhe responsabilidades, porque isto provoca nas pessoas uma confusão muito grande. O dr. Alexandre Gaudêncio já a provocou quando disse que quem é arguido não tem condições para desempenhar cargos públicos, mas ele próprio quer continuar a desempenhá-los. O vice-presidente diz que o líder não deve continuar, mas depois vai perguntar-lhe se lhe assegura a confiança para que continue como seu vice-presidente. Parece uma anedota.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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