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quinta-feira, 25 de julho de 2019

Do poeta, escritor, jornalista, Luís Fernando Veríssimo - Declaração de Amor


Declaração de Amor

Tentei dizer o quanto te amava, aquela vez, 
baixinho mas havia uma grande berreira, 
um enorme burburinho e, pensado bem, 
o berçário não era o melhor lugar. 

Você de fraldas, uma graça, e eu pelado lado a lado, 
cada um recém-chegado você sem saber ouvir, 
eu sem saber falar. 

Tentei de novo, lembro-me bem, na escola. 
Um PS no bilhete pedindo cola interceptado 
pela professora como um gavião. 

Fui parar na sala da diretora e depois na rua 
enquanto você, compreensivelmente, ficou na sua. 

A vida é curta, longa é a paixão. 

Numa festinha, ah, nossas festinhas, disse tudo: 
"Eu te adoro, te venero, na tua frente fico mudo" 
E você não disse nada. E você não disse nada. 
Só mais tarde, de ressaca, atinei. 
Cheio de amor e Cuba, 
me enganei e disse tudo para uma almofada. 

Gravei, em vinte árvores, quarenta corações. 
O teu nome, o meu, flechas e palpitações: 
No mal-me-quer, bem-me-quer, dizimei jardins. 
Resultado: sou persona pouco grata corrido a gritos de 
"Mata! Mata!" por conservacionistas, ecólogos e afins. 

Recorri, em desespero, ao gesto obsoleto: 
"Se não me segurarem faço um soneto" 
E não é que fiz, e até com boas rimas? 

Você não leu, e nem sequer ficou sabendo. 
Continuo inédito e por teu amor sofrendo. 
Mas fui premiado num concurso em Minas. 

Comecei a escrever com pincel e piche num muro branco, 
o asseio que se lixe, todo o meu amor para a tua ciência. 
Fui preso, aos socos, e fichado. 

Dias e mais dias interrogado: 
era PC < PC do B ou alguma dissidência? 
Te escrevi com lágrimas , sangue, suor e mel 
(você devia ver o estado do papel) 
uma carta longa, linda e passional. 

De resposta nem uma cartinha 
nem um cartão, nem uma linha! 
Vá se confiar no Correio Nacional. 

Com uma serenata, sim, uma serenata 
como nos tempos da Cabocla Ingrata me declararia, 
respeitando a métrica. 
Ardor, tenor, a calçada enluarada... 
havia tudo sob a tua sacada 
menos tomada pra guitarra elétrica. 

Decidi, então, botar a maior banca no 
céu escrever com fumaça branca: 
"Te amo, assinado.." e meu nome bem legível. 
Já tinha avião, coragem, brevê tudo para 
impressionar você mas veio a crise, faltou o combustível. 

Ontem você me emprestou seu ouvido e na discoteca, 
em meio do alarido, despejei meu coração. 
Falei da devoção ha anos entalada e você disse 
Disse "eu não escuto nada". 

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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