JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Do poeta-escritor Luís Fernando Veríssimo - O AMOR EXISTE


O AMOR EXISTE

Chamava-se José e amava Rosa, mas Rosa não o amava. Rosa não só não amava José como fazia discursos contra o amor na cara do José, para desanimá-lo. (“Vê se te enxerga, Zé!”) O amor era uma coisa antiga, ultrapassada, obsoleta, piegas, ridícula. Quem amava hoje em dia? Rosa fez a pergunta retórica para toda a mesa. Depois para todo o bar. Alguém ali amava alguém? Ficaram todos em silêncio. Amar, amavam. Tinham namoradas e namorados. Adoravam suas mães e seus cachorros. Alguns eram casados. Alguns sonhavam com a Patricia Pillar todas as noites. Mas todos compreenderam que o alvo da revolta da Rosa era o José. Sentado ao lado da Rosa, José só sacudia a cabeça, sorrindo tristemente, lamentando a incompreensão do mundo.

Um dia, aproveitaram que a Rosa ainda não aparecera no bar e fizeram uma proposta ao José. Porque a verdade era que havia misericórdia no bar pelo pobre apaixonado. Havia uma solidariedade silenciosa que ninguém se arriscava a expressar na presença da Rosa, que era conhecida por quebrar cadeiras quando perdia uma discussão. Longe dela, ajudariam o José a conquistar a Rosa. A torná-lo mais palpável aos olhos da Rosa. O José aceitava ser ajudado?
– Aceito – disse José. – Se não der certo, vou apelar pro papa.
– Vamos começar pelo físico – disse alguém, que tomara a liderança da operação. – O que podemos fazer de novidade?
– Uma plástica?
– Nem pensar
– Outro penteado?
– Não faria diferença...
– Você e a Rosa não têm algum gosto em comum? Algum assunto que dê conversa?
– Bom... Eu sei que ela toma muito chope...
– Isso nós todos nesta mesa tomamos, meu caro.
– E se eu deixasse crescer um bigode?
– Meu amigo, duvido muito que um bigode conquiste a Rosa. Ela é capaz de tirar o seu bigode a tapa!
– Eu sei! – gritou alguém de outra mesa. – Ciúme! Nunca falha.

Combinaram o seguinte. O José passaria a frequentar a mesa com uma mulher que apresentaria como “Sulamita, minha noiva”. Enlouquecida pelo ciúme, Rosa tentaria o suicídio.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário