QUANDO A VIDA NOS SURPREENDE...
Apanhamos o autocarro da vida e lá seguimos viagem, quase sempre distraídos a apreciar a paisagem. Vamos com a cabeça cheia de planos e com o pensamento virado para onde queremos descer. Mas de repente, a vida deixa-nos tão fora da paragem que idealizámos, que ficamos sem saber o que fazer. Então, apeamos e sentamo-nos à espera que o autocarro avance, a fim de que possamos imaginar onde queríamos ir. O coração salta-nos do peito, balança, pois não sabe muito bem o que aconteceu. Nessa altura, devemos parar, assentar as ideias, acalmar o coração e pensarmos que afinal a vida tem algum propósito para nos ter deixado ali, naquele lugar estranho. Quem sabe, se temos algo a aprender, a descobrir? Quem sabe se o nosso futuro passa por ali?
Necessitamos que a vida nos ofereça Esperança, pois decerto, será ela que nos irá conduzir nas próximas horas, até encontrarmos novamente a paragem a que nos propomos. Sacudimos a poeira e lá caminhamos estrada fora a lugar nenhum. Nada está claro ou definido. Mesmo que faça sol, a escuridão inunde-nos a alma. E chega novamente a noite, a escuridão. Esperamos que se faça luz, que haja uma ponte que nos ajude a atravessar para o outro lado. Talvez haja uma cabana, alguém que nos espera, que precisa de nós. Tudo é um incógnita.
A vida manda-nos sentar. Ainda olhamos para trás, a fim de vislumbrarmos a procedência, o lugar onde nos sentíamos confortáveis. Mas de que vale, se a vida já nos fez avançar para outro caminho, outro rumo. Também já não vale a pena, após esta viagem, esta aprendizagem do desconhecido, embora volte atrás, a vida já não é a mesma. Nada estará como dantes.
Agora, só me resta esperar e ser o que virá depois.
Finalmente, já não tenho mais que olhar para trás. Só importa o futuro, o que a vida me reserva. Neste momento, eu limpo as lágrimas, trato dos pés feridos, mas continuo a caminhar. Perante este cenário de desolação, só me resta a mim. Estou novamente sozinha à espera de outro autocarro que a vida me envie e um lugar onde possa guardar a minha bagagem, onde eu transporto os meus sonhos. Eis que começa tudo novamente, mas desta vez, mais sábia, com mais experiência, pois a vida deixou-me livre, para que eu possa escolher onde eu quero ir, bem como onde eu quero chegar.
27-07-2019
Graziela Veiga
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