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terça-feira, 13 de agosto de 2019

De António Leal - ASPECTOS DA NOSSA TERRA (8) UM PASSEIO À VILA DA PRAIA


ASPECTOS DA NOSSA TERRA (8)

UM PASSEIO À VILA DA PRAIA

Quem pretender visitar a Vila da Praia da Vitória pode escolher entre dois percursos o que melhor lhe apetecer. Se desejar um maior contacto com as freguesias rurais e com o povo alegre, não há dúvida que se optará pela estrada Leste. Porém, se quiser admirar o verde-negro da pastagem, onde as grandes manadas terceirenses constituem uma nota autêntica de riqueza pecuária da Ilha temos por certo que tomará a estrada da Achada-Cinco Picos.

Julgamos até que é aconselhável fazer a viagem de ida pelos Cinco Picos e a de regresso pelas freguesias rurais, o que permite reunir num só os dois interessantes percursos.

Optando por esta última modalidade, começará o nosso excursionista por subir a Ladeira do Desterro. Ao entrar na região da Vinha Brava, encontrará à esquerda a Casa da Saúde de S. Rafael, onde os irmãos de São João de Deus realizam, em silêncio, uma grande obra a favor dos doentes mentais do Distrito.
Nesta região, situam-se o Posto Zootécnico e a Estação Agrária da Junta Geral do Distrito Autónomo que, no dizer dos técnicos estão devidamente apetrechados para fornecerem à Lavoura Terceirense os elementos de que ela necessita para poder desenvolver-se e progredir. Na proximidade dos referidos estabelecimentos, existe a fábrica de Lacticínios da Ilha Terceira, organização que se impõe pela sua importância.

Vamos agora subir o Pico Redondo e entramos na grande recta que é a estrada da Achada-Cinco Picos. Calcetada a paralelepípedos e arborizada em quase toda a sua extensão, tem a marginá-la lindos bardos de hortenses e de roseiras de silva de diversas cores que, nos meses de Maio e Junho constituem um dos mais sugestivos cartazes turísticos da nossa terra.

Para quem se interessa por assuntos pecuários, tem a oportunidade de apreciar as inúmeras manadas de gado vacum que, dispersas pela extensa planície dos Cinco Picos e do Paul, dão uma nota característica da vida pastoril terceirense.
Atravessada a Serra do Paul, logo se avista o aeródromo das Lajes, grande conjunto de instalações aeronáuticas que se estende desde a freguesia da Vila Nova até à Vila da Praia da Vitória.

Ao atingir a descida do Pico Celeiro, pode admirar-se um dos mais lindos panoramas terceirenses. Olhando à esquerda, vê-se uma grande extensão de terreno--o Ramo Grande—tudo dividido em pequenos rectângulos de cores variadas, fazendo lembrar a tradicional manta de retalhos. Mais junto à Serra de Santiago, distinguem-se as instalações da Base Aérea das Lajes, considerada como o maior baluarte da Defesa do Atlântico.

Par o sul, temos a baía da Praia, que se estende desde a Ponta da Má Merenda, onde tem início o Porto de Abrigo, presentemente em construção, até ao Forte de Santa Catarina, no Cabo da Praia. Debruçada sobre o trigueiro areal está a Mui Notável Vila da Praia da Vitória, sede da primeira Capitania da Ilha, com o seu casario em volta da Igreja Matriz de Santa Cruz, uma das Jóias da arquitectura açoriana, cuja construção data de 1456.

Continuando a descer, entramos pouco depois, no Largo da Luz, onde se situam os edifícios do Tribunal da Comarca e do Asilo de Mendicidade D. Pedro V. Estamos em plena Vila.

Para quem vai em excursão à Praia da Vitória, aconselha-se uma visita à Igreja Matriz, onde existem algumas preciosidades de maior interesse; à Igreja da Misericórdia, mais conhecida pela designação do Senhor Santo Cristo dos Milagres da Praia, por nela ter estado exposta durante muitos anos uma imagem do Senhor Crucifixado à qual se atribuía o milagre de lhe crescerem as unhas e que foi consumida num incêndio, já no presente século.

São dignos de interesse os edifícios da Câmara Municipal e do Posto de Despacho, o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, o Largo 11 de Agosto, em frente ao Município, e o Jardim onde se ergue a estátua a José Silvestre Ribeiro, o distinto Governador Civil, que tanto se empenhou para restaurar a Vila da Praia que, por violentos abalos sísmicos, havia caído pela segunda vez, quase totalmente, em Junho de 1841.

Dada uma volta através das estreitas ruas da Vila, cujos nomes relembram passadas épocas de grandeza e glória, pode o nosso excursionista iniciar a viagem de regresso a Angra, seguindo agora pelas freguesias rurais do la Leste da Ilha.

Lajes, Janeiro de 1963.
L.M.D. (Luís Machado Drumond).

Nota: 
Faz hoje 56 anos que o grande etnógrafo terceirense faleceu, mas a obra, essa, continua viva e com grande interesse, como se vê pela grande aceitação desta série pelos frequentadores das redes sociais.

Para quando a concretização das promessas de editar a sua obra, feitas há 6 anos?

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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