Cor sem desbotar
Não tenho a culpa de nada,
Tenho a culpa de tudo,
De ouvir claramente as palavras que ouvi,
Que não queria ter ouvido,
Que me eram familiares e dormiram comigo,
Viveram, feitas feridas no meu eu,
Palavras como lanças, gravadas nas lembranças,
Num canto recôndito da memória,
Onde há um dormitório para as coisas ruins,
Aquelas que outrora mataram a vida sem viver,
Queria eu, depositar as ofensas cantadas numa morgue,
Com cadeados e uma coroa de flores, pelo facto de terem morrido,
Quisera,
Palavras, só palavras que gritam na voz,
Que ecoam, como gotas da chuva, que bate incessante no telhado,
Na velha casa da Cinderela,
Palavras que feriram um dia e um mês,
Fizeram chagas muitos anos e sufocaram os ais, os uis e os suspiros,
Palavras, malditas palavras, que enredaram lentamente um novelo indestrutível,
Porque são imortais, não morrem, mas matam,
Uma vez alojadas na alma, jamais serão desalojadas,
Quando são pronunciadas uivam as sirenes para recordar
Que há coisas que é proibido repetir,
Porque as palavras não se lavam,
São esbofeteadas pelo vento, mas não viajam,
As palavras, essas que ofendem, torturam e matam,
São como o toque do sino em dia de finados,
Cala-as
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