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domingo, 6 de outubro de 2019

De João Rocha em NO REVISTA - Rádio e jornalismo desportivo no registo de Maria Rocha


 Publicado por João Rocha

O encanto da rádio surgiu à boleia da atividade profissional do pai, Paulo da Rocha, que desempenhou as funções de radiotelegrafistas de Aeronáutica Civil, hoje designadas por controlador aéreo.

A ação decorre em Santa Maria, na década de setenta do século findo.

Faria Jordão, colega laboral do progenitor, convidou Maria Rocha (então uma jovem com 18 anos) para operadora da rádio “Clube Asas do Atlântico”.
“Lembro-me bem da estreia. Olhava pelo vidro do estúdio para a sala de baile do Clube Asas do Atlântico e não parava de tremer”, recorda.

António Valente, histórico locutor da estação, ajudou Maria João a vencer os nervos iniciais.

“A minha missão principal era passar publicidade nas pausas do locutor. Às vezes, ao enrolar as bobines estas rebentavam e tinha que as colar com adesivo. Era imperativo os anúncios irem para o ar à hora prevista e as situações stressantes repetiam-se muito frequentemente”, contextualiza.

Maria João foi acumulando experiência como operadora e as suas responsabilidades na rádio cresciam a olhos vistos.

Além do período normal de trabalho, durante o dia, passou a colaborar na emissão noturna.

“Fui responsável por um programa sobretudo à base de música romântica, emitido entre as 22 horas e a meia noite, que toda a gente ouvia”, especifica com indisfarçável orgulho.

Maria Rocha viveu em Santa Maria até 1980. Evidencia a importância do aeroporto na economia da ilha, confessando “matar saudades da Terceira ao ver e conversar com os passageiros daTAP em trânsito para o Aeroporto das Lajes”.
Outra experiência memorável foi proporcionada “pela aterragem inicial do Concorde”.

A animação social girava em torno das atividades desenvolvidas pelo Clube Asas do Atlântico, associação cultural, desportiva e recreativa, que nasce a 5 de outubro de 1946, com a designação de “Clube do Ganso”.

O Clube realizava vários jogos de salão e Maria Rocha destacou-se enquanto praticante de ping-pong.

Pioneira no desporto

A doença e posterior falecimento do pai determina o regresso à Terceira, acompanhada pela mãe, de Maria Rocha.
A ilha tentava então sarar as gigantescas feridas pelo sismo de 1 de janeiro de 1980.

Antero Pacheco, colaborador desportivo do Diário Insular, convida-a para escrever nas páginas do jornal.
Maria Rocha tornava-se assim “muito provavelmente” na primeira jornalista desportiva dos Açores.

“Os campos de futebol nem tinham instalações destinadas à imprensa. Sentava-me na bancada, junto aos adeptos”.

A aventura era movida apenas pela paixão ao desporto e jornalismo. “Só recebia dinheiro para pagar o táxi quando os encontros eram disputados nas freguesias”.

Maria Rocha destaca as “saudades pelo convívio com colegas como Antero Pacheco e Rui Diogo” e as peripécias próprias da atividade do jornalismo desportivo.

“O Lusitânia tinha uma equipa muito forte, que representava um enorme orgulho para todos os açorianos. O treinador, Mário Nunes, era também uma referência”, sublinha.

As crónicas eram escritas à mão e depois entregues no Diário Insular (então localizado na rua dos Minhas Terras) para posterior composição.
As gralhas nos textos jornalísticos faziam parte da rotina numa altura em que as crónicas dos jogos de futebol eram “lidas atentamente por um grande número de leitores”.

A reação dos jogadores às críticas era outro fator a ter em conta. Certa vez, um guarda-redes do Barreiro, de sua graça Castanheira, não achou grande piada a um frango descrito pela cronista, mas tudo acabou em bem no meio de sorrisos.
Imperativos familiares levaram Maria Rocha (hoje com 62 anos de idade) a abandonar a colaboração com o Diário Insular, salientando, porém, que fazer jornalismo foi uma “experiência marcante na minha vida”.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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