JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Do jornalista João Rocha




Liberdade é uma festa 

                                                                        


 Constitui a memória mais longínqua no curso existencial. Era a tarde de 25 de abril de 1974. Estava em casa com a minha mãe e apercebi-me do nervosismo dela e do barulho na rua. Os meus três irmãos mais velhos estavam na escola e, enquanto não chegaram a casa, a inquietação maternal não parou

Da varanda de casa, na rua dos Canos Verdes, observei ao longe uma carrinha de caixa aberta, apinhada de gente entusiasmada a gritar “viva a Liberdade”.
Nem sabia (quase ninguém, presumo) o que era a Liberdade e que a mesma merece começar por letra maiúscula.
Nasci em 1970 e, por via disso, a minha experiência vivencial na época anterior à “Revolução dos Cravos” nem merece alinhar num parágrafo.
Porém, pela boca de muitos que “lá estiveram”, ouvi relatos claramente desagradáveis em relação ao estilo social vigente na ditadura personificada por António Salazar, ditador de voz fininha e tiques, no mínimo, curiosos.
O 25 de abril de 1974 trouxe à sociedade portuguesa uma conquista que deveria estar sempre associada à condição humana – a Liberdade.
O conceito de Liberdade aplica-se em áreas fundamentais ao funcionamento de qualquer sociedade. Há pluralidade democrática, as opiniões não são abafadas pelo regime, o acesso ao ensino generalizou-se e tantas outras coisas que, para um indivíduo da minha faixa etária, nem dão para pensar na sua inexistência.
O senso comum diz-me, duma forma nítida, que acabo por ser privilegiado em ter a oportunidade de viver no período pós-25 de Abril. O mesmo senso, também, não me empurra para um tom acusatório de tudo o que marcou a época da “outra senhora”. Resumindo o raciocínio, os “maus” existem no passado, presente e futuro, como obviamente os “bons”.
Houve uma mudança política, consequência da revolução militar, mas as mentalidades não se transformam apenas com cravos no cano das espingardas.
O 25 de abril, de 1974, trouxe muitas promessas ainda por cumprir. A democracia lusa, exercida por homens e logo sujeita a inúmeras falhas, denota obscuridades que nem a sua relativa tenra idade em termos históricos consegue, só por si, justificar.
Mesmo num sistema cheio de imperfeições (do qual faço parte integrante), torno a vincar o pensamento: não há nada como viver em Liberdade, por mais aparente que esta se afigure.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário