A Troika nos toiros
com o Tio Anacleto
A cabeça do Tio Anacleto está numa barafunda. Morador numa freguesia rural da Praia da Vitória, reformado da lavoura, anda a desatinar por causa de uma tal de Troika e a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo
O Tio Anacleto, casado com a Dona Francisquinha para mais de meio século,
desespera com o receio de lhe irem à reforma.
É pobre, sempre pagou as suas dívidas e estas
coisas de Défice Excessivo, Memorando e Trokianos (ou seja o que diabo for)
estão a fazer-lhe chegar a mostarda ao nariz.
No café do largo da freguesia, os companheiros de
cartas e de dois/três copos, estão sempre a chatear-lhe com a história de que
parte da sua já parca reforma irá parar às mãos (ou bolsos) da Troika.
Homem do campo, à antiga mesmo, o Tio Anacleto não
liga peva à política e a micro e a macro economias interessa-lhe tanto como
arranjar um pente – é calvo desde que saiu da tropa.
Está farto de dizer aos colegas de horas mortas mas
nunca secas: “vocês são uns toleirões, esta tal de Troika é como o Pai Natal,
não existe de verdade”.
O problema é que está sozinho contra as opiniões de
sete ou oito. E, como a razão está do lado da maioria, volta sempre para casa a
pensar, sem nunca compreender, em especulações financeiras, vontades dos
mercados, falta de liquidez e dívidas públicas.
E, para piorar o dilema, a esposa, Dona
Francisquinha, não está para ser azucrinada nas horas sagradas da maratona de
telenovelas da TVI.
Com os dois filhos há muito emigrados para a
América, resta-lhe ir para o quintal fumar uns cigarritos e dar festas ao cão.
Está, porém, firme no pensamento que a Troika tem
de possuir um rosto, por muito feio que o pintam. E se for um homem (ou mulher,
em nome da igualdade de género) que se preze, o que à partida está garantido
por tanto falarem dele, certamente irá procurar o Tio Anacleto para se
apresentar e trocar umas ideias.
A noite, está como aquela cidade dos “states” que
nunca prega olho. As insónias acabam por se aliar no alinhamento das sugestões
que pensa fazer à Troika.
De caras, o tio Anacleto vai acusá-la de não ter
nome de gente. A seguir, irá dar-lhe uma lista de nomes de vizinhos que têm
muitas mais poupanças do que o Tio Anacleto.
Se a Troika & Companhia meterem os pés na
Terceira até 15 de Outubro, tem uma tática infalível para lhe dar a volta.
A ideia é levá-las a uma toirada e enfiar-lhes, de
forma valente, no quinto toiro
Se o estômago e fígado resistirem ao duro teste, a
única alternativa é convencê-las (nem que seja com umas bofetadas na cara e a
pegá-las pelo cu das calças) a entrar numa gaiola para explicar aos simpáticos
animais que por lá andam o verdadeiro significado do mercado especulativo.
É desta forma fácil que o Tio Anacleto pensa dar o
devido troco à Troika. A sua reforma fica salvaguardada e até parecerá um
verdadeiro político quando explicar a façanha no café.
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