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sexta-feira, 26 de maio de 2017

Do jornalista João Rocha




 A Troika nos toiros 
com o Tio Anacleto



                                                   


A cabeça do Tio Anacleto está numa barafunda. Morador numa freguesia rural da Praia da Vitória, reformado da lavoura, anda a desatinar por causa de uma tal de Troika e a saída de Portugal do Procedimento por Défice Excessivo

O Tio Anacleto, casado com a Dona Francisquinha para mais de meio século, desespera com o receio de lhe irem à reforma.
É pobre, sempre pagou as suas dívidas e estas coisas de Défice Excessivo, Memorando e Trokianos (ou seja o que diabo for) estão a fazer-lhe chegar a mostarda ao nariz.
No café do largo da freguesia, os companheiros de cartas e de dois/três copos, estão sempre a chatear-lhe com a história de que parte da sua já parca reforma irá parar às mãos (ou bolsos) da Troika.
Homem do campo, à antiga mesmo, o Tio Anacleto não liga peva à política e a micro e a macro economias interessa-lhe tanto como arranjar um pente – é calvo desde que saiu da tropa.
Está farto de dizer aos colegas de horas mortas mas nunca secas: “vocês são uns toleirões, esta tal de Troika é como o Pai Natal, não existe de verdade”.
O problema é que está sozinho contra as opiniões de sete ou oito. E, como a razão está do lado da maioria, volta sempre para casa a pensar, sem nunca compreender, em especulações financeiras, vontades dos mercados, falta de liquidez e dívidas públicas.
E, para piorar o dilema, a esposa, Dona Francisquinha, não está para ser azucrinada nas horas sagradas da maratona de telenovelas da TVI.
Com os dois filhos há muito emigrados para a América, resta-lhe ir para o quintal fumar uns cigarritos e dar festas ao cão.
Está, porém, firme no pensamento que a Troika tem de possuir um rosto, por muito feio que o pintam. E se for um homem (ou mulher, em nome da igualdade de género) que se preze, o que à partida está garantido por tanto falarem dele, certamente irá procurar o Tio Anacleto para se apresentar e trocar umas ideias.
A noite, está como aquela cidade dos “states” que nunca prega olho. As insónias acabam por se aliar no alinhamento das sugestões que pensa fazer à Troika.
De caras, o tio Anacleto vai acusá-la de não ter nome de gente. A seguir, irá dar-lhe uma lista de nomes de vizinhos que têm muitas mais poupanças do que o Tio Anacleto.
Se a Troika & Companhia meterem os pés na Terceira até 15 de Outubro, tem uma tática infalível para lhe dar a volta.
A ideia é levá-las a uma toirada e enfiar-lhes, de forma valente, no quinto toiro
Se o estômago e fígado resistirem ao duro teste, a única alternativa é convencê-las (nem que seja com umas bofetadas na cara e a pegá-las pelo cu das calças) a entrar numa gaiola para explicar aos simpáticos animais que por lá andam o verdadeiro significado do mercado especulativo.
É desta forma fácil que o Tio Anacleto pensa dar o devido troco à Troika. A sua reforma fica salvaguardada e até parecerá um verdadeiro político quando explicar a façanha no café.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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