UM
DOMINGO DE ENORME TRISTEZA
Confesso que no momento em que
acontecem desgraças com o desaparecimento de amigos e/ou entes-queridos dos
mesmos, falta-me coragem para escrever. Na verdade, fico bloqueado pela
comoção, o que já aconteceu algumas vezes. Tenho para publicar brevemente um
artigo escrito sobre três mortes que me abalaram, concretamente João Machado
Leal (vulgo Martins), João Gabriel da Silva Borges e o meu colega do jornal A
Bola, Manuel Rebelo Carvalheira, este barbaramente assassinado no seu
apartamento em Lisboa, no edifício onde também morava (não sei se ainda lá
continua), o Júlio Cernadas Pereira, conhecido na gíria futebolística por Juca e
que foi uma grande glória do futebol nacional, como jogador (Sporting) e
treinador.
Volvidos acrescentados anos, trago à estampa um pedaço dessa tristeza quando
desaparecem entes-queridos de amigos que muito consideramos. E tudo aconteceu
com o futebol e em que a peleja colocou em confronto Vilanovense e Lusitânia,
jogo disputado no velhinho campo da Vila Nova, nos tempos em que o futebol
regional era vivido com enorme entusiasmo, ao invés do que hoje acontece. Os
tempos mudaram, também há que ter isso em linha de conta. No jogo em questão, o
Vilanovense, contrariando a esmagadora maioria das previsões, bateu o Lusitânia
por 1-0, numa tarde ventosa, o que era habitual naquele recinto dos
alvi-negros. Curiosamente, um ex-jogador do Lusitânia treinava o Vilanovense,
enquanto que pelo lado do Lusitânia o seu mais carismático técnico. Estamos a
falar de José António Soares e de Elvino Coelho Bettencourt. Foi apenas mais um
jogo de futebol, mas que, subitamente, se transformou num domingo de enorme
tristeza. Faleceu o pai de Elvino Bettencourt e, pouco tempo depois (uma ou
duas horas?), a mãe de José António Soares. A tristeza da derrota e a comoção
pela vitória. Mas no fundo, e disso ninguém pode duvidar nem questionar, todos
foram envolvidos numa tristeza que não era de prever. Mas aconteceu. Por um
lado o amor de pai e pelo outro o de mãe. Na altura, já escrevia para o jornal
A Bola e acabei mesmo por não dar a notícia, para mais que sabia que o Vítor
Santos, meu querido e saudoso chefe de redação, era capaz de chorar quando
tomasse conhecimento do acontecido. Nesse sentido, estou bem à vontade para
tecer considerandos sobre um dos mais prestigiados jornalistas desportivos
deste planeta, pessoa que sempre me considerou como um irmão.
Na verdade, as consequências trágicas do referido jogo Vilanovense-Lusitânia
levaram para o “outro lado da vida” duas pessoas que amavam os respectivos
filhos, mas ambas, na ocasião, rumaram para o mesmo destino. A tristeza de um a
contrastar com a alegria de outra, esta atingindo a fatal comoção.
E já que falei de dois clubes prestigiados, acresce, e virando agulhas para
outra situação de tristeza (para os verdes), de apenas e só desportiva, fui eu
que dirigi o célebre jogo (ano de 1968) em que o Vilanovense, no Municipal de
Angra, bateu o Lusitânia por 2-0. Treinava o Lusitânia o sargento Matias.
Grande festa fizeram os da Vila Nova. E tiveram motivos para isso.
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