A MORTE DOS BANCOS
2018 vai ser o ano da morte dos bancos tal como os conhecemos.
A banca de proximidade, que era uma marca fortíssima, particularmente nos Açores, vai desaparecendo das nossas vidas, assim como os balcões de proximidade dos Correios e outros serviços cada vez mais degradados.
Claro que ainda se vislumbram alguns rasgos de excepções entre nós, mas a regra está traçada e já estou como o economista Luís Marques: vamos sentir saudades dos tempos em que os bancos, em vez de serem empresas de serviços, eram apenas... bancos.
Quem fez as contas neste final de 2017 sabe do que falo.
Já não há estímulos à poupança.
Pelo contrário, as taxas de juro são tão insignificantes, ao ponto de serem engolidas pela taxa de inflação.
Juros de 1% para quem tem 100 mil euros em depósito a prazo é sinal de prejuízo, já que a inflação nos Açores está nos 1,96% e sempre a acelerar.
No continente a inflação está nos 1,2%, o que significa que os continentais ainda conseguem poupar mais do que nós.
Depois, há que contar com os habituais subterfúgios dos bancos, aquilo a que, muito subtilmente, chamam de "comissões de gestão de conta", uma metáfora, como diz Luís Marques, "para obrigarem os depositantes a pagar por terem o dinheiro no banco em vez de o guardarem no colchão".
Pior do que tudo é que já não há rostos na banca.
Mais de 25% do negócio bancário está no digital e o consequente encerramento de balcões.
Tudo em nome da poupança... deles.
Da morte desta saudosa banca, em que alguns dos seus quadros percorriam as freguesias à procura de depositantes, renasceu as "empresas de serviço", que são administradas conforme a cara do freguês... ou a caixa de robalos.
Mesmo com as pressões para se acabar com as ditas comissões cobradas pelos bancos, há sempre uma maneira de fugir à proibição, à boa maneira portuguesa.
Fala-se muito, agora, na criação de limites às comissões cobradas em serviços básicos, como a de manutenção da conta de depósitos à ordem, mas, como noticia a imprensa nacional, os bancos já se protegeram contra esta eventualidade, com a criação de 'contas serviços' ou 'contas pacote', para onde já encaminharam boa parte dos clientes.
Só para termos uma ideia de como a conta bancária dos depositantes reduziu nos últimos dez anos à custa das "comissões de manutenção", os cinco maiores bancos nacionais (BPI, BCP, CGD, Novo Banco e Santander) agravaram as taxas em 45%, cobrando presentemente um custo médio de 5,28 euros, qualquer coisa como 63,36 euros anuais.
Outro dado curioso: os cinco maiores bancos, ao longo do ano que agora terminou, fizeram perto de uma centena de alterações ao preçário dos serviços bancários, com uma média de 8 alterações por mês, desde a anuidade do cartão de débito ou na comissão de prestação de crédito à habitação, onde se registaram os maiores agravamentos.
Com efeito, até para pagarmos a prestação da casa a banca passou a cobrar mais 47% nos últimos cinco anos, num valor médio de 2,51 euros mensais.
Qualquer dia, para ser atendido num banco teremos de pagar a senha.
Ninguém melhor do que a banca sabe como rasteirar a lei... e o cliente.
Não foram eles, os banqueiros, que deram cabo de alguns bancos e nos obrigaram a injectar na sua sobrevivência mais de 14 mil milhões de euros só de 2008 a 2015?
E alguém está preso?
Já não há bancos como antigamente.
Vamos ter saudades disso neste Novo Ano.
Janeiro 2018
Osvaldo Cabral
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimedia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
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