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terça-feira, 2 de janeiro de 2018

De Osvaldo Cabral - Jornalista e Diretor do Diário dos Açores


A MORTE DOS BANCOS

2018 vai ser o ano da morte dos bancos tal como os conhecemos.
A banca de proximidade, que era uma marca fortíssima, particularmente nos Açores, vai desaparecendo das nossas vidas, assim como os balcões de proximidade dos Correios e outros serviços cada vez mais degradados.
Claro que ainda se vislumbram alguns rasgos de excepções entre nós, mas a regra está traçada e já estou como o economista Luís Marques: vamos sentir saudades dos tempos em que os bancos, em vez de serem empresas de serviços, eram apenas... bancos. 
Ter dinheiro, hoje, num banco, é sinónimo de ficar com menos dinheiro no final do ano.
Quem fez as contas neste final de 2017 sabe do que falo.
Já não há estímulos à poupança.
Pelo contrário, as taxas de juro são tão insignificantes, ao ponto de serem engolidas pela taxa de inflação.
Juros de 1% para quem tem 100 mil euros em depósito a prazo é sinal de prejuízo, já que a inflação nos Açores está nos 1,96% e sempre a acelerar.
No continente a inflação está nos 1,2%, o que significa que os continentais ainda conseguem poupar mais do que nós.
Depois, há que contar com os habituais subterfúgios dos bancos, aquilo a que, muito subtilmente, chamam de "comissões de gestão de conta", uma metáfora, como diz Luís Marques, "para obrigarem os depositantes a pagar por terem o dinheiro no banco em vez de o guardarem no colchão".
Pior do que tudo é que já não há rostos na banca.
Mais de 25% do negócio bancário está no digital e o consequente encerramento de balcões.
Tudo em nome da poupança... deles.
Da morte desta saudosa banca, em que alguns dos seus quadros percorriam as freguesias à procura de depositantes, renasceu as "empresas de serviço", que são administradas conforme a cara do freguês... ou a caixa de robalos.
Mesmo com as pressões para se acabar com as ditas comissões cobradas pelos bancos, há sempre uma maneira de fugir à proibição, à boa maneira portuguesa.
Fala-se muito, agora, na criação de limites às comissões cobradas em serviços básicos, como a de manutenção da conta de depósitos à ordem, mas, como noticia a imprensa nacional, os bancos já se protegeram contra esta eventualidade, com a criação de 'contas serviços' ou 'contas pacote', para onde já encaminharam boa parte dos clientes.
Só para termos uma ideia de como a conta bancária dos depositantes reduziu nos últimos dez anos à custa das "comissões de manutenção", os cinco maiores bancos nacionais (BPI, BCP, CGD, Novo Banco e Santander) agravaram as taxas em 45%, cobrando presentemente um custo médio de 5,28 euros, qualquer coisa como 63,36 euros anuais.
Outro dado curioso: os cinco maiores bancos, ao longo do ano que agora terminou, fizeram perto de uma centena de alterações ao preçário dos serviços bancários, com uma média de 8 alterações por mês, desde a anuidade do cartão de débito ou na comissão de prestação de crédito à habitação, onde se registaram os maiores agravamentos.
Com efeito, até para pagarmos a prestação da casa a banca passou a cobrar mais 47% nos últimos cinco anos, num valor médio de 2,51 euros mensais.
Qualquer dia, para ser atendido num banco teremos de pagar a senha.
Ninguém melhor do que a banca sabe como rasteirar a lei... e o cliente.
Não foram eles, os banqueiros, que deram cabo de alguns bancos e nos obrigaram a injectar na sua sobrevivência mais de 14 mil milhões de euros só de 2008 a 2015?
E alguém está preso?
Já não há bancos como antigamente.
Vamos ter saudades disso neste Novo Ano.

Janeiro 2018
Osvaldo Cabral 
(Diário dos Açores, Diário Insular, Multimedia RTP-A, Portuguese Times EUA, LusoPresse Montreal)
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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