ACERCA DOS CONCERTOS NA CASCATA
Na ilha Terceira o uso da expressão HÁ TOIROS pretende, unicamente, apontar que
vai haver tourada... à corda ou sem ela! Na Ribeira Grande, em S.Miguel,
antigamente, era uso e costume dizer-se HÁ MÚSICA, assinalando que «a banda ia
tocar música» ao ar livre, ou seja, no coreto da Cascata.
Isto ocorria, geralmente, aos domingos... essas tardes de domingos
pachorrentos, preenchidos umas vezes com desafios de futebol (no Campo da
Feira), e outras vezes com a rodagem de filmes nas célebres «matinées» do
Teatro, após o que a «raia miúda» concentrava-se no famoso «recreatório» da
Igreja Matriz, onde o SENHOR PRIOR (Padre Evaristo Carreiro Gouveia) nos
entretia com uma variedade de jogos, seguindo-se a Benção do Santíssimo Sacramento
adentro da igreja de Nossa Senhora da Estrela.
Só depois de tudo isto é que toda a gente se dispersava pela cascata, a fim de
espairecer e escutar o repertório escolhido por uma das três Bandas da
localidade, a saber: «Triunfo», «Voz do Progresso» e «São Salvador do
Mundo».
Embora, no meu tempo, a Banda de São Salvador do Mundo (Ribeirinha) era
conhecida vulgarmente por «Música das Rãs», no entanto houve uma época em que
foi apelidade por «Banda dos Cabritos», conforme está descrito no livro FILARMÓNICAS
DA ILHA DE SÃO MIGUEL, da autoria de Joaquim Maria Cabral, publicado em
1985.
A fundação desta Banda, em 1877, deve-se ao Padre Lucindo da Graça, ordenado em
Roma, e que procurou «fardar os músicos» com o traje de gala da Guarda Suiça do
Vaticano, incluíndo botas de cano, calções barncos, dólmanes azuis e capacetes
emplumados.
O uso, porém, de tais fardas não demorou muito tempo, por ter caído no ridículo
popular, pelo que foi necessário substituí-las, criteriosamente, por outras
mais simples. A Banda «Voz do Progresso», originalmente alcunhada pelo povo por
«Banda dos Casacas», foi fundada em 1874. No entretanto, surgiram umas
«desavenças», que acabaram por desmantelar esta agremiação musical e suspender
as suas actividades, ficando os instrumentos guardados numa loja até meados do
presente século.
Organizou-se, então, nova comissão e recrutaram-se novos executantes que, no
momento combinado, dirigiram-se p'rá tal loja, onde se guardavam os respectivos
instrumentos.
E qual não foi o espanto de todos ao descobrirem que os instrumentos estavam a
servir de berço a uma numerosa «família de gatinhos»!
Daqui, sem dúvida, nasceu a alcunha de «Banda dos Gatos» pela qual era
popularmente conhecida, no meu tempo, a «Voz do Progresso».
Mas a «brincadeira» não ficou por aqui, visto que, pouco depois, e por repisa,
surgiu o apelido de «Música dos Cães» p'rá «Banda Triunfo».
A mais provável data da sua fundação teria sido em 1880, conforme o testemunho
de Joaquim Maria Cabral, inserto na página 179 do seu livro: «Só a partir dos
fins de 1880 é que o nome da Banda Triunfo começou a figurar, ou a aparecer, na
imprensa micaelense, nos noticiários de procissões e de coroações do Espírito
Santo».
Claro que, através dos anos, as Bandas tiveram «altos e baixos» e, uma vez por
outra, «andaram às turras», chegando mesmo a exibirem-se pelas ruas da Ribeira
Grande com bandeiras zoológicas, apontando a superioridade dos «cães sobre os
gatos» e, bem assim, dos «gatos sobre os cães»... estes e aqueles em «caprichosas
atitudes assanhadas». (Livro e autor supracitados).
Agora, num abraço de saudade e aceno de despedida, este par de quadras:
O Largo da Cascata
No meio tem um coreto,
Onde toca o meu amor
Aos domingos e dias santos.
Já lá vai p'lo mar abaixo
O meu rico Serafim,
Tocava pratos na música,
Fazia tchim, tchim.
Pe. José A. Ferreira
Oakland, Califórnia
Sem comentários:
Enviar um comentário