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quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Os "Monstros Sagrados" jamais serão esquecidos




Eça de Queirós, por António

Bem conhecidas são as personagens queirosianas. Conhecidas, analisadas, interpretadas, reinterpretadas e discutidas, ora elogiadas, ora abominadas, à luz de paradigmas diversos, complementares ou antagónicos: da história literária à psicanálise e ao estruturalismo, passando pela estilística, pela sociologia
literária, pelos estudos femininos, pelos estudos pós-coloniais, pelos estudos comparados ou pelos estudos narrativos, para tudo e para algo mais têm servido as personagens de Eça. Heróis e vilões, misóginos e sexualmente ambíguos, edipianos e, quando calha, anti-edipianos, reflexo do seu tempo e desmentido do que ele foi,  românticos, tardo-românticos e pré-modernistas, assim são os seres humanos que habitam os relatos de Eça. Neste aspeto, a vasta bibliografia queirosiana tem-se alimentado gulosamente da complexidade do mundo ficcional de Eça. E, no caso em apreço, da abundância diversificada de uma ementa de carateres que desafia e às vezes assusta quem dela se aproxima: c’est l’embarras du choix!
Não vou por aí, porque, tal como muitos outros, por esse caminho já fui e por ele voltei. Quando me refiro aqui à personagem como ficção, aludo, em geral, à vocação queirosiana para inscrever a literatura nas suas narrativas e nos discursos das figuras que nelas encontramos; o que, com perdão pela invocação do óbvio, me parece ser uma forma de lançar uma ponte que vai do realismo à modernidade, na passagem do século XIX para o século XX.
De forma mais clara, reporto-me a vários aspetos deste tema tão amplo como, para mim, fascinante. Por exemplo, ao facto de personagens literárias de outros escritores comparecerem nos relatos de Eça, mencionadas pelos seus narradores ou pelas personagens queirosianas propriamente ditas. Num outro plano, o conceito de personagem emerge pontualmente na ficção de Eça, a propósito  das histórias contadas e não raro com intuito argumentativo. Para além disso,  a ficção pode ser  lida não como um “espaço” fechado, mas como um campo sem fronteiras rígidas, campo que  pode ser “invadido” por seres (por personagens) que nele penetram sem grandes restrições. Desponta aqui, naturalmente, a noção que é uma das estrelas mais brilhantes da constelação dos modernos estudos narrativos: a metalepse.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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