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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

segunda-feira, 12 de março de 2018

Da conceituada atriz Cidah Viana - Peça de tetro Um Negócio Na Europa


(Continuação de Um Negócio na Europa)

* Radmila Zandra - ILHA (Marlene Gandra)

marinheiro espreita as ondas

do bravio oceano

não fácil de manobrar

horizonte surreal envolve 

o crepúsculo vespertino

cada porto coronário

ultrapassa a lucidez

pulmões bussolares

no súbito ondular das águas

pescam multicoloridos peixes

nas pinturas de Ilídio Gomes


*  Tõezinho - SONHO DE CONSUMO (Paulo Milagre)
Sentada na calçada, recostada ao muro, 
abrigada nos trapos que lhe restam de uma vida miserável, 
imposta por uma sociedade tirana. 
Pernas cruzadas, pés descalços, 
mas com olhos cravados nos folhetos de propaganda. 
Folheia um a um. 
Atenta, desliza o dedo por sobre os anúncios e, com certeza, 
sonha poder abarcar tudo aquilo que, para ela, 
nunca passou de um sonho de consumo.
MÚSICA - Uma Casa Portuguesa - Amália Rodrigues (COM CORTES)
Numa casa portuguesa fica bem,
pão e vinho sobre a mesa.
e se à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem esta franqueza, fica bem,
que o povo nunca desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente./ (CORTE)
* Alceu Ângelo - HENRIQUETA - Edson Gonçalves Ferreira
Precisava molhar o pão no café para depois comer. Êta pão duro!... Dormido. Sob aquele olhar cheio de ternura, porém, não havia outro remédio senão comer e agradecer a generosidade da velha tia Henriqueta. Ficava ali parada,plantada, apoiada na sua bengala, vendo a gente molhar o pão no café para poder comer...
MÚSICA - Uma Casa Portuguesa - Amália Rodrigues (COM CORTES)
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho à alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo,
mais o sol da primavera...
uma promessa de beijos...
dois braços à minha espera...
*Amadeu Tomys - Sim, esta é a imagem que guardo dela já velha.Os cabelos compridos, compridos em coque. Vestido caindo até os pés quase e uma mantilha portuguesa sobre os seus ombros magros e altaneiros. As rugas, margaridas que o tempo desfolhou nas suas faces,pondo no seu rosto um ar de anja. Agulhas de crochê na mão, uma prece na boca ou se arrastando para subir os degraus da escada do Santuário de Santo Antônio, na antiga Divinópolis, para assistir às missas todas do dia e a doce frase sempre repetida vem à lembrança: - Dá cá um beijo e venha comer um pedacito de pão com café. Estás com fome, como não.
MÚSICA - Uma Casa Portuguesa - Amália Rodrigues (COM CORTES)
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
* Valdo Parmiamy - Assim era tia Henriqueta. Muito mais bonita que essas velhinhas açucaradas que norte-americano mostra em seus filmes de água com açucar. Tinha garra. Foi uma das primeiras professoras primárias de Divinópolis. Veio de Portugal. Cruzou mares. Atreveu a navegar como navegadores antigos consagraram. Ainda tenho vestígios de sua vinda e de sua vida por lá. Repousam nas minhas gavetas cartas que ela escreveu em 1880, de Portugal, para seu irmão, meu avô, contando que o pai deles tinha falecido. Existe uma tarja preta em volta da carta, marcando o luto. O resto, de tão envelhecido, partiu e perdi no meu tempo de convento.
MÚSICA - Uma Casa Portuguesa - Amália Rodrigues (COM CORTES)
No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
e a cortina da janela é o luar,
mais o sol que bate nela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
uma existência singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tigela.
* Klaus Werneck - O fato é que, aos cento e seis anos de idade, não sabemos nem a idade correta, morreu solteira, solteiríssima, solteirona. Nem pensem em lágrimas, ela morreu cantando. Podem se admirar. Tia Henriqueta morreu assim. Sempre pedia para, quando a hora chegasse, cantarem "caminho, verdade e vida". Minha tia Eulina que ela ajudou a criar prometia. Só que na hora, conta minha mãe, ninguém deu conta de cantar. A voz secou como água na fonte da garganta dos parentes. Então, moribunda, ela iniciou a canção sacra que ninguém sabia. Os visinhos, contam, continuaram, mas cantando uma nova melodia com uma letra parecida.
MÚSICA - Uma Casa Portuguesa - Amália Rodrigues (COM CORTES)
Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
São José de azulejo
mais um sol de primavera...
uma promessa de beijos...
dois braços à minha espera...

(Continua)

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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