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domingo, 12 de agosto de 2018

Do meu baú



Com o passar do tempo, dos anos que se vão seguindo, temos sempre coisas para contar, mesmo em relação a nós próprios. Também temos que falar do que não queríamos antes e, hoje, já mudamos de opinião por via dos atos reais.


Quando estava na Terceira, não gostava nada de andar de autocarro (aqui no Brasil diz-se ônibus), recorrendo muitas vezes a boleia de alguns amigos e colegas do jornal, sempre prontos para me deixarem em casa, nomeadamente. Uma questão de comodismo? Talvez tenha sido analisando o que hoje faço nesse sentido. E que faço eu? Exceto quando vou ao Rio de Janeiro de barca (não há engarrafamentos), utilizo muito o ônibus (autocarro), de casa para o centro de Niterói e vice-versa. É cansativo, mas tem que ser. Agora tem mesmo que ser. E não esquecer, também, as outras viagens para fora do Rio, nomeadamente Divinópolis cujo trajeto se percorre em cerca de nove horas, apenas com duas pequenas paragens para se tomar um café. É cansativo. Mas tem que ser. Hoje, por uma questão de curiosidade, gostaria de saber o tempo que já dispus nestas andanças de ônibus (autocarro). Não gostava, não queria, mas agora tem que ser, não há outro jeito. Boleias (aqui se diz caronas) é muito raro apanhar uma. Contudo, tenho que confessar que na nossa terra, mau grado o fato de eu não utilizar amiúde o autocarro (ônibus), não tinha o problema do salve-se-quem-puder. E o que significa isto? Aqui no Brasil ninguém faz bicha (o melhor dizer fila para os brasileiros, que bicha para eles é coisa feia), é um empurra-empura com ônibus (autocarro) superlotados e, por conseguinte, um vê-se-te-avias. Um dia disse a uma senhora para fazer bicha e ela ficou horrorizada. Depois é que me lembrei da história. Se tivesse dito isso a um homem teria sido pior.

E agora vem a segunda história em relação ao título encimado. Tem a ver com computador. Desde os 15 anos que escrevia numa máquina HERMES BABY. Fui-me habituando pelo tempo fora e, inclusivamente, nas minhas primeiras viagens ao estrangeiro, a minha máquina de escrever estava sempre comigo. Numa dessas viagens, creio que a segunda (1984), para ganhar tempo comecei a escrever no avião depois de servido o jantar. A dada altura uma das hospedeiras chegou à minha beira e pediu-me que parasse porque havia pessoas reclamando que queriam dormir. Só respondi: uns querem dormir, outros querem trabalhar, mas lamento o fato de a máquina não ter silenciador. E a conversa ficou por aqui, tive que aceitar. Hoje diria putz (termo brasileiro). Naquele momento, cerrei os dentes e não saiu o que eu queria dizer.

Máquina de escrever que me acompanhou quando fui para São Miguel chefiar o Jornal do Desporto. Uns dias depois de lá chegar, Gustavo Moura e Lourenço de Melo colocaram um computador em cima da minha mesa de trabalho. Fiquei logo com os “tremeliques” porque, na verdade, tinha um horror ao computador. Disse a eles que preferia ir-me embora do que andar no computador. Como entenderam a minha mensagem (duas pessoas ótimas, sublinho), ficou assim mesmo.


Posteriormente, o mesmo sucedeu no Diário Insular com o Dr. José Lourenço, só que manda a verdade dizer que o Dr. José Lourenço, inteligente que é, teve a paciência necessária para me ensinar o básico e lá fui caminhando para o computador. Hoje não quero outra coisa e nem me falem em máquina de escrever.

Dois casos para eu justificar, em relação à minha pessoa (e exemplo para outras), que a língua é o “chicote da vida”.



Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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