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terça-feira, 27 de novembro de 2018

Homenagem a um catedrático das letras ONÉSIMO TEOTONIO ALMEIDA


CONTINUAÇÃO 

E há uma extrema-esquerda nos EUA?

Sim, mas não tem força. Agora temos alguém que não é extrema-esquerda, mas um tanto mais à esquerda, que é Bernie Sanders. Ele captou a franja de eleitores apoiantes de Obama e os que defendem todas as causas extremas. Mas essa esquerda não tem nada que ver com a de cá, dos tempos pós-25 de Abril, dos maoistas, por exemplo. É uma esquerda que se agarra a causas de vanguarda específicas, desde os temas "verdes" até aos direitos dos transgénero, e engloba causas que hoje entraram já no "mainstream", como o casamento dos homossexuais. Há causas para todos os gostos e que vão em todas as direcções, num espectro de 360 graus, como num círculo. Não fica claro se [algumas causas] são de esquerda ou de direita. Há o pró-aborto e o anti-aborto, a pró-legalização da marijuana e o antimarijuana, o pró-armas e contra as armas. Seria melhor falarmos nos partidos republicano e democrata como em dois círculos que, em parte, se sobrepõem numa zona difusa, indecisa. Essa franja de uns 5% do eleitorado pode ser captada por um ou outro dos centros de gravidade, conforme as circunstâncias.

Mas está assumido nos EUA que o poder vai sempre alternar entre estes dois pólos políticos?
Sim. Não vejo nenhuma outra hipótese. Agora, os dois círculos tentam captar as suas franjas e tanto conseguem como largam. Elas flutuam ora para um, ora para outro. Desta vez, essa pequena franja caiu para o lado de Trump. Tive um aluno que foi assistente de Al Gore na Casa Branca e um dia convidei-o a vir à minha aula falar sobre a sua experiência. Para ele, o Presidente não é mais do que um gestor de pressões. Recebe-as de todos os lados. Um bom exemplo de um bom gestor de pressões foi Clinton, que era um contorcionista. Inclinava-se mais para a esquerda, mais para a direita, mais para trás, mais para a frente, conforme a pressão. Quem não exerce pressão sobre o poder é como se não existisse.

Os EUA funcionam muito na base do lóbi?
Sim. Hoje generalizou-se o nome genérico de lóbis aplicado a tudo. As pressões vêm dos lóbis, mas vêm também de todos os grupos que, mesmo individualmente, actuam junto dos seus políticos locais. Como nos EUA o poder é muito local, as pessoas sabem como é que o político que elegeram vota, e estão constantemente a controlá-lo. Fazem pressão, escrevem e telefonam aos políticos. Exigem que o seu ou a sua representante os ouça  e intervenha. Cada um, à sua escala, desde o regional ao nacional, vai dando mais atenção às causas em favor das quais há maior pressão, fazendo-as sentir dentro dos canais do partido até chegarem ao topo, em Washington.

Portanto, os cidadãos têm de facto poder para intervir na vida política.
Têm poder e intervêm. O lóbi é um termo técnico para as pessoas que são pagas para actuar em Washington, nos circuitos políticos, a tentar influenciar, usando todos os truques permitidos legalmente. Às vezes, descaradamente, outras através de um convite para aqui ou para acolá, ligações por amizade, contactos, colegas de universidade. É gente paga para o efeito. Mas existe uma grande quantidade de pessoas que está constantemente a telefonar, a escrever. Há sempre campanhas: "Escreva ao seu senador." As pressões começam a nível local. As maiores pressões acabam recebendo atenção no topo. Os políticos são sensíveis à pressão porque as eleições dos congressistas ocorrem de dois em dois anos e, para os senadores, de seis em seis anos. Muitas vezes, essas pressões são de gente que não tem muito dinheiro, mas é persistente na sua intervenção política e consegue enfrentar o lado do dinheiro, dos lóbis. Portanto, um bom político é aquele que consegue gerir todas essas pressões num ambiente democrático e de "fairness", para evitar conflitos piores, violentos. Ora, o que Trump tem estado a fazer não é nada disso.

Continua 

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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