"FIALHADAS"
Um passeio a pé pelo centro da cidade de Angra do Heroismo pode ter que se lhe diga... Deixo o carro no parque do Bailhão e lá vou eu na minha viagem. Ainda dentro do parque está a "Serginha" - autocarro que faz o circuito de Angra - preparada para sair. Vejo entrar gente mais nova e expedita do que eu, que vai até `Guarita, mas não pode ser a pé porque é muuiiito longe(?!...) e a Rua do Galo sobe que é um disparate!...Disparate, acho eu, é de quem leva o comodismo ao extremo, mas cada um sabe de si e Deus de todos... Subo a Avenida Tenente-Coronel José Agostinho e olho para o Radio Clube de Angra, recordando o antigo, na Rua Recreio dos Artistas, hoje sede do Grupo de Teatro "Alpendre", que foi a verdadeira "Voz da Terceira", onde cheguei a colaborar em programas desportivos e relatos de futebol do 3º mundo....Um autêntico serviço público para terceirenses e jorgenses, principalmente, sobretudo em épocas de aflição, como as crises sismicas. O RCA de agora pode ser bom, mas não para mim. Tem naturais dificuldades financeiras, como outrora também havia. O problema, a meu ver, é que se tornou num feudo de querelas politico partidárias, através de "assaltos ao poder" e outras coisas feias que vieram a público. Enfim, se as pessoas quiserem SERVIR SÓ A ILHA, tudo bem. Amor à camisola, puro e duro., Caso contrário, tudo mal.
Chego ao Alto das Covas, onde o José da Ribeirinha me pergunta se já sei que os bilhetes para o Carnaval no Teatro Angrense estão esgotados? Ele conseguiu bilhetes para si e patroa porque se ergeu às 3 da matina para estar na bilheteira do Centro Cultural, a tomar vez. Isto é que é um lavrador que se queixa de levantar cedo para ordenhar as vacas (que dão leite baratinho....), mas pelo Carnaval faz-se tudo... O Carnaval "gourmet" do Teatro Angrense, com danças e bailhinhos durante 4 dias, é um espectáculo! O meu Carnaval é "low cost",do povo e de Sociedade em Sociedade, de pé, comendo uma bifana e bebendo uma fresca, no meio de uma gargalhada à piada do Tio Alcindo, homem com mais de 50 Carnavais no pêlo!...Há Marias que nem fazem jantar para apanhar um lugar bum na Sociedade ou no salão, se preferirem. Levam comida e bebida, comem sentadas na sua cadeirinha, e aguentam até ao fim (4 ou 5 da manhã). Isto é que é gente rija, que nem mija?!....Ninguém as vê, por um instante que seja, levantarem-se do lugar, pois não se pode perder pitada e não vá o diabo tecê-las...Gente boa das urinas. Cá pra mim, no fim, a cadeira e talvez o chão, possam ter uma pocinha de suor por causa daquele bailhinho atrevido que os garotos, com piadas finas até fizeram cair umas pinguinhas ...
Prossigo viagem e vejo a Escola do Alto das Covas (Infante D. Henrique ), que cheguei a frequentar.
Mais abaixo, na Rua da Sé, nova loja do chinês, com roupas do último grito para o Carnaval....Depois dos japoneses nas marchas das Sanjoaninas (tentativa de colonização), não ficarei admirado se qualquer dia aparecer um bailhinho chinês!....Estou preparado para tudo, até na lingua. Quando era miúdo ensinaram-me que o aspirador se chamava "XUPÓPÓ". A partir daí que venha o que quiserem em nome do turismo sustentado. Com tantos hostel, há lugar para todos.
Desço mais um pouco e perto da Igreja da Sé, o António da tia Chica dá-me a novidade: sabes que o Invaristo de São Mateus fugiu da Ilha com uma brasileira? E a mulher, tanto boa pequena e o filho novinho? Tal pecado. Aquele Invaristo sempre foi meio doido. Amodes que vendeu um prédio e foi para o Brasil cuela....Vais ver que qualquer dia está outra vez cá, de mãos a abanar e muito arrependido, porque não há amor como o primeiro nem vinho como o de cheiro?!....
O Comércio parece-me com pouca clientela. Passo pelo Armazem Zeferino, do raro comércio tradicional que se mantem e logo a seguir o antigo Pedro Amiguinho, onde comprava rolos de papel encaracolado, às cores, de enfeitar e atirar, confètis e matrenicas para fazer faisca no Carnaval, não esquecendo as célebres fonas de porca, por vezes largadas na sala de aula e que os professores nunca sabiam a origem. Só desconfiavam....
Para mal dos meus pecados ainda hei-de encontrar o Chico Cambado que mal me vê, aproxima-se e dispara: Oh Francisco não é que o Manel Escangalhado ficou sem a sua cara metade?Foi no ginásio que ela conheceu um gajo de fora, juntaram os trapinhos e adeus que te fostes.... O Chico chora nem uma Madalena?!... Coitado.
Não sei de nada e só quero é fugir dali. Num curto espaço de tempo, nem o correio da manhã faria melhor!....Meto-me para os lados do Prior do Crato, passada rápida e olhar para cima, não me vá cair mais alguma notícia de última hora.Direito ao Jardim Duque da Terceira, onde procuro um banco, longe da multidão. Sento-me ao pé de um chorão (àrvore) e constacto que ainda há quem diga que as mulheres são mexeriqueiras!....Que injustiça. Não há mais nada que fazer do que coscuvilhar na vida alheia? Coisas de terra pequena, com algumas pequenas mentes... Faço "delete" no que me contaram e contemplo os canteiros bem arranjados, as flores, os pássaros e ouço o coachar das râs. ^Vem-me à memória a infância, quando ao domingo, a seguir ao jantar, aquele jardim se enchia de gente, àvida de um banco e de uma descontraida conversa com gente amiga. Alguma miudagem circulava nos triciclos. A luz era fraquinha mas o ambiente bom e verdadeiro. Por vezes ainda se podia ouvir a música da filarmónica, no coreto.
Mais tarde veio uma biblioteca onde se podia requisitar um livro para leitura no jardim.
Seguiu-se a idade de namorar e o Jardim foi lugar de amores e desamores, com autorização do célebre guarda "Tio Bailhão", figura peculiar que faz parte da história do Jardim. Eu também namorei lá.... até hoje. Havia o qiosque onde se compravam umas guloseimas e uns pirolitos do Frederico. O Jardim de Cima, menos arranjado e procurado, também servia. A dois passos do Liceu, era uma corridinha e um beijinho....Já o preto do jardim era lugar de má fama, onde podiam acontecer coisas esquesitas e só os namorados mais velhos e afoitos se atreviam ir, espreitados por adultos com cara de malfeitores e que se fosse hoje, levariam um pontapé num lugar que eu cá sei?!.... E se calhar ainda "iam dentro".
Por hoje, o passeio a Angra está quase no fim. Levanto-me, espreguiço-me e caminho na direcção do tanque dos peixes. Quando olho em frente, `distância, avisto um homem de braços abertos.Assusto-me e penso se ainda haverá mais alguma fofoca.?...Afinal não. É só o Marcelo, que faz questão de tirarmos uma selfie. Que não seja por isso....desde que não me venha a condecorar!...
Até à próxima.

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