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quinta-feira, 23 de maio de 2019

Do jornalista Souto Gonçalves - COM A DEVIDA VÉNIA,


COM A DEVIDA VÉNIA, AQUI DEIXO, PARA REFLEXÃO, UM ESCLARECIDO, OPORTUNO E CORAJOSO TEXTO DE Albino Manuel Terra Garcia:

Porque a guerra a Rui Rio está na ordem do dia e todos os açorianos se acham mais ou menos indignados, publico, a pedido de dois amigos, a resposta que dei a um post editado por açoriano de primeira água que não tolera esta discriminação do dito presidente do PSD:

Rui Rio continua igual a si mesmo. Nada diplomata, mas verdadeiro. E, queiramos ou não, os votos dos açorianos pouco importam para o caso, como, ao fim e ao cabo, pouco contam no contexto nacional. Nós, aqui, é que nos arvoramos em estadistas de meia tigela com todo este peso político que tem sido criado internamente: uma Assembleia Legislativa semelhante à Assembleia da República com imensos deputados e serviços dependentes, custos exagerados para uma região como a nossa. Do mesmo modo, um governo lato, repleto de secretários e mordomias, cada secretaria um ministério com todo o funcionalismo que isso comporta, directores regionais para tudo e mais alguma coisa, adjuntos, secretários e secretários de secretários... 

Implantámos um sistema governativo quase imperial, preocupado em acolher ciclicamente os apoiantes partidários da facção ganhadora (jobs for boys) dentro de uma região economicamente débil onde alguns se pavoneiam em grandeza e facilidades, usufruindo “direitos” adquiridos por via dos cargos, proveitos e ganhos monetários que são um insulto ao povo que os sustenta sem ver resolvidos os seus problemas mais imediatos. 

Na verdade, somos uma região infuncional (espero não ter inventado nova palavra, à semelhança da antiga presidente da A.R.) que para o ser tem custos demasiado elevados.

Pensemos só quanto nos custa o poder regional instituído com tudo o que isso representa em termos de pessoal adstrito, lojística, despesas diárias, etc... Depois resta um orçamento escasso que, a dividir por 9 ilhas mais ou menos necessitadas, é uma ninharia perante os enormes custos do poder que o gere. Talvez por isso é que seja sempre mal dividido, sempre a favor de quem já tem mais porque também tem mais poder eleitoral, económico, etc... E não passamos disto. Continuamos, e cada vez mais, a ser uma região ou uma regiãozinha dividida em sub-regiões, dependente de governos paternalistas que trata alguns açorianos como filhos naturais, outros como bastardos, outros ainda como enteados...

Muitas vezes os nossos representantes, olhando mais para fora do que para dentro, põem-se em bicos de pés e querem também ter voz nos areópagos do mundo real, como se isso fosse o mais importante, como se nos pudéssemos impor a quem nem dá por nós... E, em vez de nos debruçarmos sobre a realidade interna das ilhas, esta que vivemos dia a dia, tão restrita, tão local, tão visualmente sentida pelos povos de cada parcela insular, vamos demorar-nos agora num esforço inteletual interpretativo sobre o porquê de qualquer insatisfação política que muitos julgam injusta e incorreta. Só não perdemos tempo a pensar em tantos açorianos, dispersos pelas ilhas, que diariamente sofrem injustiças, incorreções, esquecimento e até desprezo por parte dos governantes regionais.

Nesta região de exageros despesistas na sustentabilidade de um poder magno que divide (mal) pelos açorianos um orçamento escasso e ilusório em termos de produtividade, eu só desejo que se perca mais tempo com discussões concretas e realistas quanto à vivência dos povos insulares, ao nosso futuro como Região Autónoma e à nossa sobrevivência equitativa dentro de cada ilha. Essa, sim, é a grande responsabilidade de quem criou esta situação, de quem nos meteu neste esquema desigual, de quem nos obriga a sermos o que somos e como somos porque não nos permitem ser de outra maneira.

Espero também que ninguém se lembre de repetir jocosamente atos de semelhante infantilidade aos que, no passado, envolveram grotescas figuras de gravatas pretas e bandeiras simbolicamente submetidas a vontades pessoais de alguns... É tempo de ganharmos alguma maioridade. Todos e não só alguns.

Ou então continuemos, assim, embalados pelas ondas, eternamente anestesiados na doçura de um sonho de que poucos parecem querer despertar.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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