THE QUEEN
O presidente se queixou que estão querendo transformá-lo numa
rainha da Inglaterra. Nunca entendi bem esse uso da rainha inglesa – ou
qualquer rainha – como exemplo de poder ornamental, que reina, mas não manda.
Todos os privilégios da coroa (no caso, a Elizabeth) seriam provas da sua
inutilidade.
Ela mora de graça num castelo e, para veranear, pode escolher
entre vários outros castelos. Mesmo que alguns gastos com os castelos sejam da
sua responsabilidade (imagine os IPTUs!), a rainha vive cercada
de segurança e conforto à custa dos seus súditos.
Nada a agrada
mais do que uma noite à beira do fogo, conversando com Philip e fazendo cafuné
no cachorro, ou conversando com o cachorro e fazendo cafuné no Philip.
Sua única obrigação é participar
das cerimônias oficiais do reino, quando ela tem a oportunidade de usar um dos
seus magníficos chapéus, que há anos resistem ao escárnio republicano e,
segundo alguns, são os verdadeiros símbolos do império. É uma vida invejável.
Mas virou exemplo de poder sem potência.
A queixa do Bolsonaro é que
querem que ele seja rei só para espetáculo, um rei inglês simbolizando nada, ou
só simbolizando. O verdadeiro poder, no sistema inglês, está no parlamento. Mas
os ingleses deram um jeito de ter um parlamento poderoso e atuante e ao mesmo
tempo, ao seu lado, uma paródia de parlamento, a Câmara dos Lordes.
Os lordes, que só se reúnem para
trocar dicas de charutos e conhaques, são os verdadeiros ingleses. Mas o que o
Bolsonaro não se dá conta é que ele se elegeu com um poder que nenhuma rainha
tem, ou teve nos últimos anos. O capitão Bolsonaro pode demitir generais. Pode
mudar generais de lugar, inventar cargos e ministérios para brincar de
troca-troca de generais. Não sei do que estão reclamando. Deve ser divertido.
A diferença entre uma rainha da
Inglaterra elisabetana e uma rainha da Inglaterra atual é que uma podia
encomendar execuções de rebeldes e descontentes e a outra tem de lidar com o
Maia.
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