O JOSÉ DOS SALMONETES
Com o Porto das Pipas às mãos de semear para varar os seus pequenos barcos, muitos pescadores do Corpo Santo, vários com outras profissões, iam ao mar para capturar peixe para alimento da própria família e alguns, inclusive, vendiam o pescado que conseguiam trazer para terra. Lembro-me do Tio Castanheta (apanhava muita castanheta), do Nesperinha do Pico (emigrou para os Estados Unidos), o próprio Augusto Ávila e tantos outros, nomeadamente aqueles que residiam na zona do Cantagalo.
Já aqui trouxe à estampa em outro artigo, a família do Tio Henrique “Seguro”. A maioria dos rapazes foram funcionários da Alfândega de Angra do Heroísmo. Apenas o Henrique (também RIP) seguiu para controlador aéreo, tendo sido transferido para Santa Maria e, posteriormente, para Cabo Verde (Ilha do Sal).
Gosto pelo mar tinha o José e o Rui, creio eu. Do José tenho a firme certeza, porque muitas das vezes o via passar com os seus pequenos cofres de apanhar salmonetes. Depois, no regresso, e bem à vista, um bom punhado desse saboroso peixe que lá em casa do Tio Henrique se comia grelhado com manteiga e salsa. Que delícia. Quando lá aparecia, sempre comia algum, por obra e gentileza da Tia Angelina. Eu era o único sobrinho, mocinho, que por lá aparecia, até porque, de quando em vez, o Henrique pedia-me para ir comprar à Farmácia do Pacheco dois escudos e meio de brilhantina. Dali sempre recebia um escudo por ser o “menino-de-comprar-brilhantina”. Era uma volta saudável e aquela “gorjeta”, digamos assim, dava jeito para comprar cromos da bola ou então para jogar ao king no Marítimo.
O José, homem dos salmonetes, emigrou para os Estados Unidos e é tio da esposa do nosso amigo João Bendito. Foi através dele, que soube que o José, já viúvo, com 83 (?) anos de idade, que se encontra na Califórnia, tem na sua casa a companhia de um cãozinho, o seu fiel amigo para ajudar a ultrapassar um pouco da solidão que incomoda e por vezes assusta.
Era assim o José Sousa, alegre, brincalhão, e sempre bem disposto para se lançar ao mar com o intuito de trazer para casa um bom punhado do peixe que ele mais gostava: o salmonete!
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