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quinta-feira, 3 de outubro de 2019

De António Leal - Aspectos da Nossa Terra (10) UM PASSEIO AO MONTE BRASIL


Aspectos da Nossa Terra (10)


UM PASSEIO AO MONTE BRASIL
Se é certo que os passeios a lugares distantes se tornam mais agradáveis e atraentes, pelo muito que nos é dado admirar durante o percurso, a verdade é que nem todos podem realizá-los por dificuldades de transporte, pois, são mais dispendiosos.

Nesse aspecto, os angrenses estão beneficiados, porquanto, a dois passos da cidade, têm o Monte Brasil, lugar esplêndido onde se podem passar algumas horas de ociosidade sem grandes gastos de dinheiro.

Infelizmente, temos a impressão de que, apesar da proximidade do Monte Brasil, há muitos angrenses que parecem ignorarem a sua importância como local de recreio e de prazer e até como estância de saúde, continuando a fugir da cidade em busca de lugares aprazíveis para passarem algumas horas.

Quem quiser passar uma tarde agradável prepare o seu farnel, suba a ladeira do Castelo e meta-se pelo Caminho de Santo António que segue a meia encosta do monte, no sentido Oeste-Sueste. Percorridos algumas centenas de metros, encontrará a Ermida de Santo António da Grota mandada construir, no ano de 1615, pelo Governador D. Gonçalo Mexia e que a nossa Junta Geral fez beneficiar recentemente, numa verdadeira recuperação de valores tradicionais e históricos.

Ali se realizavam antigamente, grandes festas, que se prolongavam por treze dias, com arraiais muito concorridos pelos angrenses, os quais eram abrilhantados pela banda militar da guarnição.

Logo adiante do pequeno templo, há um extenso passeio, ao longo do qual a Junta Geral fez colocar várias mesas e bancos de cimento, que se destinam às pessoas que ali desejam tomar as suas refeições, o que constitui um autêntico melhoramento.

Pode dizer-se que é sumamente aprazível sentar a uma daquelas pequenas mesas e ir saboreando um bom almoço, ao mesmo tempo que, por entre o negro-verde dos pinheiros, se vai admirando um lindo panorama que dali se desfruta sobre a cidade. É aprazível e também saudável, pois, não deve esquecer-se o ar puro e sadio que ali se respira.

Quem subir ao Pico das Cruzinhas, onde se ergue o padrão comemorativo do V centenário do descobrimento dos Açores, tem oportunidade de descortinar um panorama original que se pode considerar único nos Açores.

Dali, a nossa vista abrange a área compreendida entre o Pico das Contendas, a Sueste, e a freguesia de Santa Bárbara, a Noroeste, cuja extensão deve andar à volta dos vinte e cinco quilómetros.

Para os lados do Poente avistam-se as lhas de S. Jorge e do Pico, lá ao longe, cujas silhuetas se recortam no horizonte. Um pôr-do-Sol visto do Pico das Cruzinhas constitui um quadro de maravilha.

A nossos pés o velho Castelo de S. João Baptista, verdadeiro escrínio de gloriosas tradições, que serviu de cenário a alguns dos factos mais importantes da nossa história. Antiga praça de guerra de primeira classe, foi objecto de apertado cerco, durante onze anos, por ocasião da restauração da Independência de Portugal, em 1640.

Ali existe ainda a sala onde esteve prisioneiro o infeliz D. Afonso VI, rei de Portugal, a quem roubaram a mulher e o trono. Foi também neste Castelo que estiveram presos o célebre Gungunhana e os seus companheiros que haviam oposto resistência ao Governo de Portugal.

Para além da extensa muralha, estende-se o casario da cidade entre o qual se podem distinguir a Sé Episcopal, as Igrejas do Colégio, de S. Francisco, de Nossa Senhora da Conceição, da Misericórdia, de S. Pedro, de Santa Luzia e de S. Bento, o Convento de S. Gonçalo, o Seminário de Angra, o palácio do Governo Civil e o Comando Militar da Terceira, o monumento a D. Pedro IV, mais conhecido por «Memória e o novo Hospital Regional que, como dissemos já, é o maior edifício da cidade.

Situados a dois passos de Angra, o Monte Brasil podia e devia ser melhor aproveitado pelos angrenses.

Não resistimos ao desejo de terminar este pequeno artigo com a transcrição das palavras com que o Capitão Spínola de Melo inicia a sua interessante obra «O Castelo de S. João Baptista da Ilha Terceira e a Restauração de 1640».

«Estância de saúde e recreio tão perto da cidade e tão mal aproveitada por nós os angrenses».

«É o ar ozonizado junto à praia, tão recomendado para as crianças raquíticas; é o ar puro e oxigenado da floresta da floresta, que tão benéfico podia ser à saúde abalada de tanta gente; são os passeios floridos; é o recreio da pesca na rocha, da caça no montado…»

Lajes, Fevereiro de 1963

L.M.D. (Luís Machado Drumond)
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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