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quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Encontro 11



A Jaqueline estava curiosa para saber o que o Carlos Henrique, funcionário do Café Aliança (O António o mais antigo. Saiu e depois voltou, o mesmo que dizer que o “bom filho à casa voltou”) transportava naquela mochila enorme. Seria para acampar? Transportava algo volumoso que fazia parte do seu dia-a-dia? Eu também nunca questionei o Carlos Henrique sobre esta questão. A Jaqueline é muito perspicaz, manda a verdade dizer.

Nestas viragens constantes de assuntos trazidos à nossa mesa (Muitos olhares em cima da Jaqueline. É esbelta, diga-se em abono da verdade), lembrei-me da Tia Beatriz dos cães e fui ao meu baú para trazer até à Jaqueline um artigo que escrevi sobre a dita e que foi publicado em tempos idos no jornal A União. Jaqueline prestou toda a atenção, tratando-se de uma figura muito querida pelos angrenses, nomeadamente os habitantes das ruas Oliveira, Canos Verdes, Quatro Cantos (nome antigo) e, finalmente, a rua de Jesus.

Antes de entrarmos diretamente no assunto a que nos propusemos para a feitura deste artigo, no serviço militar usava-se muito este termo: está um dia cão ou foi um dia cão. O dia que decorria e/ou o seu términus em termos de serviço.

Ora, esta estória não deixa de ser mais uma com o seu quê de interessante e de alguma nostalgia. E porquê? Lembrei-me da dita estória pelo fato do cão ser um dos animais de maior estimação. Muitas são as casas que têm cães de raça. É só vê-los passear nas ruas com os seus donos (masculinos e femininos). E o curioso de tudo isto é que, normalmente, são chamados de “nenezinhos”, como, de fato, de uma criança se tratasse. Neste pormenor, os brasileiros fazem parte do núcleo dos paradigmáticos, o que não significa, por outro lado, que não haja cães abandonados.

Em tempos de outrora, havia uma senhora que morava na Rua dos Canos Verdes, conhecida pela Tia Beatriz. Uma senhora franzina (era só roupa no cabide) e que, todos os dias de manhã (por vezes também à tarde) saia com os seus quatro cães atrelados, daí que passou a ser conhecida, esta continental que veio residir para a ilha Terceira, pela Beatriz dos cães. Era, na verdade, uma pessoa que irradiava alegria, sobretudo quando acompanhada pelos seus fieis amigos. Sempre parava a falar com a vizinhança e pessoas amigas. Quando ela punha os pés na rua, com os cãezinhos na trela, logo se comentava: lá vem a Beatriz dos cães!

Manda a verdade dizer, e para encerrar, que a Beatriz se tornou numa figura popular pela forma em como tratava os cães. E quantas vezes ela desceu a Rua da Sé com os quatro na trela? Foram muitas. E toda a minha gente lhe achava graça, por ser uma senhora já de idade, vinda do continente, e que tinha sempre no seu rosto um sorrido de felicidade. E essa felicidade se tornava mais saliente quando se fazia acompanhar dos seus quadrúpedes domésticos. Também carnívoros e digitígrados. Só domésticos não completaria.

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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