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sexta-feira, 21 de julho de 2017

Do jornal A União




UM DOMINGO DE ENORME TRISTEZA

Confesso que no momento em que acontecem desgraças com o desaparecimento de amigos e/ou entes-queridos dos mesmos, falta-me coragem para escrever. Na verdade, fico bloqueado pela comoção, o que já aconteceu algumas vezes. Tenho para publicar brevemente um artigo escrito sobre três mortes que me abalaram, concretamente João Machado Leal (vulgo Martins), João Gabriel da Silva Borges e o meu colega do jornal A Bola, Manuel Rebelo Carvalheira, este barbaramente assassinado no seu apartamento em Lisboa, no edifício onde também morava (não sei se ainda lá continua), o Júlio Cernadas Pereira, conhecido na gíria futebolística por Juca e que foi uma grande glória do futebol nacional, como jogador (Sporting) e treinador.

Volvidos acrescentados anos, trago à estampa um pedaço dessa tristeza quando desaparecem entes-queridos de amigos que muito consideramos. E tudo aconteceu com o futebol e em que a peleja colocou em confronto Vilanovense e Lusitânia, jogo disputado no velhinho campo da Vila Nova, nos tempos em que o futebol regional era vivido com enorme entusiasmo, ao invés do que hoje acontece. Os tempos mudaram, também há que ter isso em linha de conta. No jogo em questão, o Vilanovense, contrariando a esmagadora maioria das previsões, bateu o Lusitânia por 1-0, numa tarde ventosa, o que era habitual naquele recinto dos alvi-negros. Curiosamente, um ex-jogador do Lusitânia treinava o Vilanovense, enquanto que pelo lado do Lusitânia o seu mais carismático técnico. Estamos a falar de José António Soares e de Elvino Coelho Bettencourt. Foi apenas mais um jogo de futebol, mas que, subitamente, se transformou num domingo de enorme tristeza. Faleceu o pai de Elvino Bettencourt e, pouco tempo depois (uma ou duas horas?), a mãe de José António Soares. A tristeza da derrota e a comoção pela vitória. Mas no fundo, e disso ninguém pode duvidar nem questionar, todos foram envolvidos numa tristeza que não era de prever. Mas aconteceu. Por um lado o amor de pai e pelo outro o de mãe. Na altura, já escrevia para o jornal A Bola e acabei mesmo por não dar a notícia, para mais que sabia que o Vítor Santos, meu querido e saudoso chefe de redação, era capaz de chorar quando tomasse conhecimento do acontecido. Nesse sentido, estou bem à vontade para tecer considerandos sobre um dos mais prestigiados jornalistas desportivos deste planeta, pessoa que sempre me considerou como um irmão.

Na verdade, as consequências trágicas do referido jogo Vilanovense-Lusitânia levaram para o “outro lado da vida” duas pessoas que amavam os respectivos filhos, mas ambas, na ocasião, rumaram para o mesmo destino. A tristeza de um a contrastar com a alegria de outra, esta atingindo a fatal comoção.
E já que falei de dois clubes prestigiados, acresce, e virando agulhas para outra situação de tristeza (para os verdes), de apenas e só desportiva, fui eu que dirigi o célebre jogo (ano de 1968) em que o Vilanovense, no Municipal de Angra, bateu o Lusitânia por 2-0. Treinava o Lusitânia o sargento Matias. Grande festa fizeram os da Vila Nova. E tiveram motivos para isso.
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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