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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Luís Bretão - Um terceirense de causas - Depoimentos


Ilha Terceira 

José Eliseu Costa

A ilha Terceira, em mais de meio milénio de povoamento, tem sido berço de pessoas que se tornam figuras incontornáveis pelo que escrevem, dizem, cantam, ensinam, pelo que fazem, pelo que são. Outras há que pelo seu carácter, integridade e simpatia tornam-se exemplos da intrepidez e tradição cavalheiresca que têm marcado gerações nesta ilha redonda. Neste grupo está sem dúvida Luís Carlos Noronha Bretão.
Filho de um dos mais insignes doutos em exercício na cidade de Angra do Heroísmo, Luís teve sempre o condão de nunca esquecer as suas raízes rurais,
por via paterna, da freguesia de Santa Bárbara daquele concelho. E talvez isso tenha condicionado a moldagem da sua personalidade e aguçado a sensibilidade para as tradições populares. A sua residência é anualmente franqueada às romarias dos pezinhos de São Carlos, tornando-a paragem obrigatória. Desse modo nasceu a admiração pelos cantadores como trampolim para a formação de laços de amizade que perduram até hoje.
Luís é um homem solidário, de diálogo fácil e aberto, franco, prestável, leal e sem qualquer capa de fingimento. A pronúncia terceirense bem fincada, falada por vezes a um ritmo matraqueado, dá um toque alarachado e divertido ao seu discurso. Ele olha-nos, não com altivez, mas com humildade; fala-nos não com aspereza, mas com meiguice; incentiva-nos não com hipocrisia, mas com sinceridade; critica-nos não com insolência, mas com respeito; escuta-nos não com sacrifício, mas com deleite, abraça-nos não com cinismo, mas com elevada estima. Ele orienta, pois, a sua vida por princípios morais nobres, além de ser prestável, caridoso, solícito, compreensivo e bondoso.
A poucos metros do alçado tardoz da sua vivenda construiu um alpendre retangular destinado a reuniões de família, convívios, tertúlias, festas comemorativas e encontros gastronómicos. Foi nesse novo compartimento que os cantadores se tornaram presença frequente como animadores de serões. Ele faz questão de brindar os seus convidados, em momentos considerados especiais, com cantigas ao desafio que acabam por divertir à conta dos motes específicos que são fornecidos.
Um acidente vascular cerebral fê-lo perder pujança física, diminuiu-lhe muito a agilidade dos membros canhotos, mas não lhe retirou a lucidez e até o tornou mais longânime. Mesmo fisicamente limitado continuou a organizar festins, a receber pezinhos e a dinamizar iniciativas de índole cultural. Com mais tempo livre, aprofundou conhecimentos sobre as cantigas ao desafio, estudou as características dos repentistas e compreendeu melhor o glossário do vernáculo popular. Recolhe textos e depoimentos sobre tradições terceirenses, figuras marcantes e típicas do povo, improvisadores, violistas e até sobre momentos de culto, compilando-os em pequenos opúsculos.
O Luís Bretão nutre carinho pelos cantadores, mas esse sentimento é recíproco. Ele ajudou a quebrar barreiras preconceituosas e a desfazer a ideia de obtusão associada aos cantadores ao desafio por alguns aristocratas. Trata todos os elementos da classe com igual afabilidade independentemente do traquejo ou capacidade poética. Na mesma medida incentiva e promove os principiantes, como eleva o seu preito aos veteranos da velha guarda.
Luís é conselheiro, conciliador, altruísta, cordial, sincero, alegre e amigo.
Estou-lhe grato pela amizade que me tem dispensa e desejo que viva muitos mais anos na nossa companhia para que nos contagiemos pela sua boa disposição e nos orientemos pelo seu exemplo.
José Eliseu Costa - São Bartolomeu, ilha Terceira, Janeiro de 2014
Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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