JORNALISMO EM DESTAQUE

485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 11 de julho de 2017

Do jornalista João Rocha



Felicidade no sofá
 e mexericos no Facebook


A preocupação não é de agora. O associativismo desaparece a olhos vistos pelas nossas ilhas. Instituições recreativas, culturais e desportivas esmorecem, por via da falta de dirigentes, as suas relevantes atividades.
Obviamente que as realidades sociais mudaram muito num espaço temporal algo reduzido.
Os jovens podem sair de casa livremente para animações noturnas que nada têm a ver com a participação no folclore ou filarmónica da freguesia natal.
O sossego do lar, onde não faltam computadores equipados com Internet e jogos, ecrãs televisivos de alta definição e frigoríficos devidamente apetrechados, também contribuem para o esvaziamento funcional de casas do Povo e sociedades.
De resto, a população pouco ou nada parece preocupar-se com a realidade das agremiações que coreografam de alegria a existência de múltiplas gerações de açorianos.
A doação de energia e tempo a uma causa coletiva é coisa inteiramente do passado, até porque aos dirigentes estão associadas responsabilidades cada vez maiores aos níveis financeiro e legal.
Os argumentos que sustentam a recusa de participação passam, ainda, pela alta intensidade dos ritmos vivenciais de agora.
No fundo, depois de um dia de trabalho, nada como ficar relaxado no sofá a (tele)ver o mundo das notícias e entretenimentos.
Para compor o ramalhete da preguiça e abstinência, nada como se atirar de cabeça ao “mundo frenético” das redes sociais. O Facebook é perfeito para colocar os mexericos em dia, mostrar jantaradas e bebedeiras, observar, ao pormenor, as fotos da vizinha em biquíni e comentar, sempre com a mira no julgamento, os incêndios em Pedrógão Grande ou o assalto a Tancos.
A vida preenche-se ao ritmo próprio das banalidades. O voluntariado fica para os outros, assim como a constituição de direções ou simples comissões de gestão.
E, quase sem darmos por isso, referências de outrora vão engrossando memórias sem direito a repetição no futuro.
Contempla-se o quadro, afasta-se o pó e argumenta-se com o corriqueiro: “eu não tenho vida, nem tempo, para estas coisas”.
Para aconchegar a consciência, cria-se a romântica ideia que existirão sempre uns dedicados carolas para dar o corpo ao manifesto. E somos todos felizes a pensar que somos felizes assim…

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

Sem comentários:

Enviar um comentário