Felicidade no sofá
e
mexericos no Facebook
A preocupação não é de agora. O associativismo
desaparece a olhos vistos pelas nossas ilhas. Instituições recreativas,
culturais e desportivas esmorecem, por via da falta de dirigentes, as suas
relevantes atividades.
Os jovens podem sair de casa livremente para
animações noturnas que nada têm a ver com a participação no folclore ou
filarmónica da freguesia natal.
O sossego do lar, onde não faltam computadores
equipados com Internet e jogos, ecrãs televisivos de alta definição e
frigoríficos devidamente apetrechados, também contribuem para o esvaziamento
funcional de casas do Povo e sociedades.
De resto, a população pouco ou nada parece
preocupar-se com a realidade das agremiações que coreografam de alegria a
existência de múltiplas gerações de açorianos.
A doação de energia e tempo a uma causa
coletiva é coisa inteiramente do passado, até porque aos dirigentes estão
associadas responsabilidades cada vez maiores aos níveis financeiro e legal.
Os argumentos que sustentam a recusa de
participação passam, ainda, pela alta intensidade dos ritmos vivenciais de
agora.
No fundo, depois de um dia de trabalho, nada
como ficar relaxado no sofá a (tele)ver o mundo das notícias e entretenimentos.
Para compor o ramalhete da preguiça e
abstinência, nada como se atirar de cabeça ao “mundo frenético” das redes
sociais. O Facebook é perfeito para colocar os mexericos em dia, mostrar
jantaradas e bebedeiras, observar, ao pormenor, as fotos da vizinha em biquíni
e comentar, sempre com a mira no julgamento, os incêndios em Pedrógão Grande ou
o assalto a Tancos.
A vida preenche-se ao ritmo próprio das
banalidades. O voluntariado fica para os outros, assim como a constituição de
direções ou simples comissões de gestão.
E, quase sem darmos por isso, referências de
outrora vão engrossando memórias sem direito a repetição no futuro.
Contempla-se o quadro, afasta-se o pó e
argumenta-se com o corriqueiro: “eu não tenho vida, nem tempo, para estas
coisas”.
Para aconchegar a consciência, cria-se a
romântica ideia que existirão sempre uns dedicados carolas para dar o corpo ao
manifesto. E somos todos felizes a pensar que somos felizes assim…
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