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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 18 de julho de 2017

Do jornalista João Rocha



Cadáver elegante
antes dos 100 anos

 
                                                          


É fatal como o destino. De tempos a tempos, a comunicação social dedica especial enfoque às questões relacionadas com os hábitos alimentares em nome da saúde e do corpo perfeito.

Nas diferentes plataformas ao seu dispor, lá aparece o nutricionista a alertar, pela enésima vez, que os portugueses abusam nas gorduras, no sal, no açúcar e que o santo remédio é enveredar por uma dieta rigorosa, que tanto pode ser à base de saladas naturais como a comer de tudo, desde que seja moderadamente.
Quem não seguir os conselhos à risca, viverá sob a ameaça constante do colesterol (do mau, porque o bom até é saudável), dos diabetes, dos ataques cardíacos e de outras coisas ruins que nos podem dar boleia à morte, tarefa que, escreva-se de passagem, a vida sempre se encarrega.
Segundo os sábios conselhos, é ainda  indispensável realizar muitos exercícios (especialmente nos ginásios onde o nutricionista presta colaboração…), não fumar e só ingerir bebidas alcoólicas de forma ajuizada.
Com esta receita, facilmente todos chegarão a um século de existência.
Eu acho muito bem, mas rejeito tal ementa. Ponto prévio, aprendido na Associação dos Amigos do Garfo: leva-se desta vida é a vida que levamos. 
Defendo, e pratico, a ideia de que deveremos ser nós a regular o funcionamento do próprio organismo.
O exercício é deveras simples: se abusei no almoço, o melhor é evitar o jantar ou, caso sinta necessidade, comer frugalmente.
Nunca comer até enjoar, mas também não abandonar a mesa com fome porque a emenda (ou ementa, se preferir) será invariavelmente pior do que o soneto.
Todos os personal trainers vão atirar-me com pesos à cabeça pelo facto de praticar atividade física ao ar livre em detrimento dos ginásios onde, admito, possam existir vistas deveras agradáveis independentemente do género e gosto pessoal.

Marina de Angra do Heroísmo, Porto das Pipas, Relvão e Monte Brasil chegam de sobra para as minhas caminhadas, sem custos financeiros e ar puro à disposição.
Dispenso fundamentalismos, sabendo que o espírito deve evitar as securas. Um dia não são dias e a porta do divertimento convém estar sempre entreaberta.
Até bebendo três cafés por dia, como recomendado cientificamente, mantenho sérias reservas sobre a hipótese real de chegar aos 100 anos, apesar dos banhos salgados durante o ano inteiro.

De qualquer modo, ninguém me tira da cabeça a ideia de que serei portador de um cadáver elegante e, quiçá, saudável…

Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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