O magrinho no paletó
de grandes ombreiras
Depois que Sinatra
se separou de Dorsey foi tudo muito rápido. Houve um contrato de dois meses com
o Teatro Paramount, em Nova York, salário de mil dólares por semana. Também a
oportunidade de participar de um filme da RKO e de gravar discos pela Colúmbia.
Nas noites de sábado, ele cantava no programa Lucky Strikes Hit Parade e, em
março de 43, estrearia em um night–club de Manhattan chamado Riobamba. Aqui, um
acontecimento curioso multiplicou o nome Frank Sinatra na mídia da época.
Ele cantava no
Riobamba, em uma daquelas noites quentes de março, quando uma garota na
platéia, particularmente sensível ao calor, sentiu-se mal e teve um desmaio.
Foi o suficiente. Logo surgiu o rumor de que a voz aveludada daquele cantor
magrinho, metido em paletós de grandes ombreiras, abalava as garotas e provocava
síncopes. O rumor foi publicado pela revista Newsweek, e tornou–se
verdade.
* * *
Em setembro daquele
mesmo ano, 1943, a revista The American Magazine, de Nova York,
trazia o seguinte relato de seu repórter Jack Long:
“Se os jovens da
costa Oeste são iguais aos de Nova York – e nunca ouvi nada ao contrário – um
bando de rapagões de Hollywood vai se sentir abandonado brevemente. Porque,
enquanto escrevo, um jovem garoto está a caminho de lá, e ele não é alto nem
bonito, mas tem algo que faz com que as garotas o sigam lacrimejando,
comportando-se como uma manada, e esquecendo todos os outros homens. Por um
olhar dele elas arrancam o cabelo, e por uma foto autografada são capazes de
assassinato. Eu as vi em ação, e foi uma experiência incrível.
“Ia andando pela
Times Square em uma manhã de sábado, pensando em coisas minhas, quando fui
envolvido por uma turbulenta massa humana e jogado da calçada para a rua. Um
policial a cavalo trotou em minha direção com o chicote em riste e gritando
‘Volte para a fila, seu…’, e me ameaçando. Veio uma nova onda, mais gritos, e
fui despejado no meio da rua outra vez. Daí aproveitei um sinal fechado para o
trânsito e cruzei a rua, dando de cara com outro policial.
“– Escute aqui –
gritei – sou um cidadão pacífico e, seja qual for o motivo desta demonstração,
eu estou fora dela. E, a propósito, o que é que está acontecendo?
“O policial me
lançou um olhar infeliz. ‘Estão abrindo as portas para o primeiro show do
Teatro Paramount. Tem sido assim nas últimas seis semanas’, acrescentou,
lamentando. ‘Todo dia ele canta, e todo dia é assim’.
“Fui embora, mas o
mistério me incomodou por vários dias. Frank Sinatra. O nome era familiar, eu o
ouvi no rádio sem prestar muita atenção. Mas o que, eu me perguntava, pode
trazer cinco ou seis mil jovens para a Times Square, num sábado de manhã,
querendo ouvir alguém chamado Sinatra cantar algumas canções?”
O fenômeno era pra
valer. Vejamos o relato de Bruce Bliven, na revista The New Republic,
um ano depois, em novembro de 44:
“Às nove horas da
manhã o Teatro Paramount está cheio e, mesmo assim, a fila para comprar
ingressos dá volta ao quarteirão. Mas isso não é nada. Vocês deveriam ver isto
aqui na quinta-feira, que foi um feriado. Mais de dez mil pessoas tentavam
entrar e 150 policiais de reforço não conseguiam manter a ordem. Vitrines de
lojas eram quebradas, pessoas se feriam e ambulâncias as levavam. Os que
entravam ficavam para assistir duas ou três apresentações, o que fez com que a
confusão fora do teatro durasse o dia todo. Das 3.500 pessoas que estavam em
suas cadeiras quando o primeiro show começou, apenas 250 saíram quando o
segundo ia começar. Tinha gente na fila desde a meia-noite do dia anterior. Um
senhor disse que tentou comprar um ingresso para sua filha oferecendo oito
dólares para alguém que o tinha (o preço normal dificilmente ultrapassaria um
dólar), mas não conseguiu. Uma senhora, que estava na fila com sua filha horas
depois de o show ter começado, disse que a garota havia ameaçado matar-se se
tivesse que ficar em casa”.
* * *
Na época, algumas
expressões criadas pelas adolescentes de meias soquete que suspiravam por
Sinatra passaram a fazer parte de seu dia-a-dia. Swoon (a pronúncia é swúm) é o
termo em inglês para desmaio, síncope. Os desmaios eram tantos durante os shows
que Frank foi logo apelidado de Swoonatra. As mães das garotas tiveram acessos
de cobras e lagartos quando descobriram que suas filhas chamavam seus pijamas
de Sinatra Suits (conjuntos Sinatra). Em suas cartas, as garotas substituíram a
expressão final, Sincerelly Yours (Sinceramente Sua), por Sinatrally Yours. E,
quando preguiçosamente se esticavam em suas camas, diziam que estavam em
Sinatrance.
Evidentemente havia
os céticos, os críticos que diziam ser tudo aquilo tramado pelos empresários
que cercavam os shows de Frank, e os acusavam de pagar pelos desmaios para
promover o cantor. Em julho de 46 os jornais publicaram esta nota: “George
Evans, assessor de imprensa de Frank Sinatra – que mantém o compromisso de doar
mil dólares para a instituição de caridade indicada por alguém que prove que um
ingresso, um passe, ou um presente de qualquer tipo foi dado a uma garota para
que ela gritasse num show de Sinatra – aumentou a importância para cinco mil,
por causa da inflação”.
A febre Sinatra era
tão grande que provocava incidentes ruidosos. Em um show em Filadélfia, seis
policiais formaram uma ala entre a porta do teatro e o ponto de táxis (ele
ainda usava táxis), para garantir que deixasse o local. Eram policiais fortes,
massudos. A multidão atacou e, em fração de segundos, ele perdeu o chapéu, o
sobretudo, a maleta de viagem, os botões da camisa e vários fios de cabelo. Foi
protegido por dois enormes funcionários do teatro, dois cenógrafos, que
evitaram um estrago maior. “Duas garotas arrancaram minha gravata e quase me
enforcaram” – contou Frank.
Ao chegar à estação
estava sendo perseguido por aproximadamente 50 jovens excitadíssimos que vinham
em uma fila de táxis. Ele correu para uma lanchonete e conseguiu esconder-se
atrás de alguns caixotes de refrigerantes. Quando os garotos perceberam que o
haviam perdido, e foram embora, ele saiu do esconderijo e pediu que o garçon
lhe desse uma coca.
– Ei – respondeu o
rapaz. – Você é Frank Sinatra. Que tal um autógrafo?
E o dinheiro ia
chegando. Os números podem parecer modestos hoje, mas considerando-se o dólar
na década de 40, era muita coisa. Alguns dados disponíveis referentes a 1944
(previsões feitas em 43): seus shows de rádio para a CBS renderiam seis mil
dólares por semana. Os royalties pelos discos seriam de 150 mil, e ele
receberia 250 mil por participações em filmes. Por sete apresentações diárias
em teatro ele teria 15 mil garantidos, recebendo a diferença se 50% da renda
bruta ultrapassasse esse valor – foi o maior contrato já firmado no ramo das
diversões até então.
Frank já era
chamado, simplesmente, The Voice, A Voz. Difícil dizer precisamente quando o
apelido surgiu, mas uma reportagem publicada em Newsweek no
dia 20 de dezembro de 1943 já a registrava com naturalidade, ao relatar dois
incidentes do cantor com suas Sinatra Swooners (aproximadamente, as
Desmaiadoras de Sinatra): “A Voz mesmo teve de dizer–lhes que se calassem em um
show. A algumas mães de fãs mais exaltadas foi pedido que mantivessem suas
filhas em casa”.
Sem comentários:
Enviar um comentário