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485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

terça-feira, 16 de maio de 2017

Do jornalista João Rocha



Ricardo Jorge,
o romântico aficionado
                                                       
                                                 



“Senhor Ricardo, preciso da sua ajuda”. “Amigo João, estou às tuas ordens”. Ricardo Jorge, falecido em 12/05/2007, aos 76 anos de idade, era um daqueles homens que fazem da simpatia o traço contínuo do carácter.

Bastava o repórter estar aflito por ter de escrevinhar algo sobre tauromaquia, que sabia, de antemão, quem ia “desenrascar o problema”. De resto, para escrever em verdade absoluta, nem sequer chegava a existir problema. Ricardo Jorge falava de toiros e toureiros com a mesma naturalidade com que o comum dos mortais bebe água para saciar a sede.
Pelo telefone, na redação (quer do Diário Insular, quer do jornal A União, entretanto encerrado pela Diocese de Angra) ou na mesa de um qualquer café, nunca deixava que a falta de conhecimento do jornalista amputasse o teor da notícia. Não se limitava, porém, a responder às questões.
Praticamente sem perceber patavina do assunto, para mim era um verdadeiro prazer escutar tão respeitável crítico tauromáquico.
As suas explicações (salpicadas por um sentido de humor delicioso) abriam os sentidos para a plenitude da festa brava.
As histórias apresentavam sempre uma projeção global. Todas os personagens, do ilustre artista à figura mais humilde e castiça, eram magistralmente apresentados em cada história, como se envergassem “trajes de luces”.
O relato era tão convincente que o fio condutor só podia ser entrelaçado pelo amor. O mesmo amor que fazia da família e dos amigos um tesouro sagrado.
Era um afago para a alma ver os seus olhos a brilhar, acompanhados por um sorriso de criança deslumbrada, enquanto desbobinava as suas perspetivas sobre a ilha, a sociedade, as festas e os costumes.
Irradiava uma gentileza que destoava com uma vivência cujo ritmo é capaz de nos brutalizar, levando-nos a brigar mesmo com as pessoas que mais amámos.
Ricardo Jorge não era de brigas. Mesmo a falar da bravura de um toiro, nunca conseguia despir a sua capa de eterno romântico. No fundo, comportava-se como um aficionado pela vida. Há uma década que sinto a falta da saudação “amigo João”, transportadora de puro sentimento, para início de cada conversa.
Com um amigo desta grandeza moral, era de todo impossível ficar encostado às tábuas.
Deus o tenha num lugar onde também faço votos de estar.


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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