485º Aniversário da Cidade de Angra do Heroísmo

domingo, 6 de maio de 2018

Da minha intervenção na Ratel Web Rádio - Rádio Face


Nunca fui daqueles de virar as costas aos desafios lançados. Circunstancialmente, sempre confiei no meu “saber fazer”, na minha capacidade imaginativa. E foi deste modo, que, em 1986, aceitei um convite do Sporting da Horta (delegação do Sporting de Lisboa) para levar o clube a campeão. Logrei esse desiderato, para gáudio de todo o grupo de trabalho. Mas, aqui, confesso

que minha filha, sempre presente aos fins-de-semana, foi meu talismã. Nessa altura, ela tinha cinco anos de idade e, aos domingos de manhã, deparava que a minha fisionomia mudava, isto é, apresentava indícios de preocupação, na exata medida em que, para atingir os objetivos propostos, não podia perder jogos. Expliquei-lhe, com todo o cuidado, essa situação e foi então que, com aquele ar de criança já crente, me respondeu: pai vou rezar no sentido de saíres vencedor. Até aí, tudo bem. Num fim-de-semana em que não me acompanhou, acabei mesmo por perder esse jogo, aliás, o único em que fui derrotado. A partir desse momento, acreditei cada vez mais que minha filha, nessa encruzilhada de treinador que tinha que ser campeão, foi o meu precioso talismã.


Seguindo a sequência do facto que relatei em relação à minha filha, o título de campeão foi festejado com espumante espanhol. Aconteceu na casa de um fervoroso sportinguista, o meu bom amigo Carlos Batelão. Ele viveu intensamente a disputa desse campeonato que, na verdade, foi renhido até à derradeira jornada, jornada essa em que fomos campeões ao derrotarmos, na sua própria casa, o mais direto competidor. A noite foi bem divertida. Todos os que estiveram na casa de campo do Carlos Batelão de lá saíram bem aviados. Eu, por exemplo, não sei bem como cheguei a casa. Será que alguém me ajudou a subir três lances de escadaria...? Ainda hoje não sei. O que sei isso sim, é que, na segunda-feira de manhã, após a conquista do saboroso título, estava deitado na minha própria cama e quando acordei senti na cabeça o peso do espumante espanhol. Depois, nessa mesma segunda-feira, mais comedida, muito mais mesmo, a festa ainda continuou, mas sem espumante espanhol. Não havia mais, porque beberam todas as garrafas que o Carlos Batelão tinha em stock.
Terminada a minha missão, abandonei a cidade da Horta e nunca mais tive notícias do Carlos Batelão. Mas, onze anos volvidos, fui lá de férias e o Carlos continuava bem disposto. Só que, infelizmente, para todos nós, essas férias não deram para estarmos todos juntos, atendendo a que, no dia 9 de Julho (cheguei no dia 6), a cidade foi sacudida por um terramoto que fez oito vítimas e que, pela sua intensidade, destruiu muitas dezenas de habituações. O forte abalo telúrico aconteceu às cinco horas e vinte minutos da madrugada do dia 9, seguido de contínuas réplicas. Acabaram as minhas férias e também o meu firme propósito de voltarmos a ter uma noite animada em casa do Carlos Batelão. Mas o pior foram aqueles que morreram soterrados e as muitas famílias que ficaram sem habitação, passando por momentos difíceis. Já havia passado por situação semelhante, no dia 1 de Janeiro de 1980), em Angra do Heroísmo, quando a ilha Terceira também foi fortemente atingida, mas aqui foi muito pior, ceifando muitas vidas. De resto, as habitações não escaparam a esse fenômeno da natureza, exceto as construídas com cimento, placas e cintas de ferro. Essas resistiram. Melhor, as dos ricos não sofreram danos. A reconstrução passou, então, para anti-sismica, quer em Angra, quer na Horta. Como é habitual dizer-se, “depois de casa roubada, trancas na porta”. Um dia isso tinha de acontecer, tratando-se de ilhas de origem vulcânica. Só depois dos referidos terramotos, é que muita gente se apercebeu que as suas casas não ofereciam segurança alguma. Os ricos, esses, não tiveram problemas nas suas habitações. 


Carlos Alberto Alves

Sobre o autor

Carlos Alberto Alves - Jornalista há mais de 50 anos com crónicas e reportagens na comunicação social desportiva e generalista. Redator do Portal Splish Splash e do site oficial da Confraria Cultural Brasil-Portugal. Colabora semanalmente no programa Rádio Face, da Rádio Ratel, dos Açores. Leia Mais sobre o autor...

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